Com início no último domingo (18/10), os brasilienses enfrentam a chegada das chuvas no Distrito Federal (DF). Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é que as precipitações permaneçam até quinta-feira (22/10) e, no meio da pandemia de coronavírus, a chuva pode ter uma influência na disseminação do vírus.
Segundo Rodrigo Biondi, médico intensivista do Hospital Brasília, vários estudos tentaram correlacionar a interação do clima com a propagação do vírus. “Sabemos que os vírus respiratórios são mais propensos a se propagar no inverno porque as pessoas ficam mais em locais fechados. Entretanto, nenhum estudo conseguiu comprovar uma relação do clima com a disseminação do covid-19”, afirma.
Rodrigo explica que, no início da pandemia, os brasileiros estavam confiantes de que a doença não chegaria, mas a história seguiu outro rumo. “Havia, no início da epidemia, em janeiro, uma certa segurança de que não haveria epidemia forte no Hemisfério Sul porque era verão aqui. Logo depois, mesmo em lugares mais quentes, com o clima tropical, houve grande manifestação, grande impacto da epidemia”, lembra. “Um dos países com maiores impactos da pandemia no momento é a Índia, que atualmente está com clima mais quente”, exemplifica.
Apesar da situação do DF apresentar equilíbrio, Rodrigo adverte: “Nós já estamos há algumas semanas sem crescimento, mas ainda não podemos relaxar”. De acordo com o especialista, ainda não há dados que possam confirmar a possibilidade de aumento devido ao tempo chuvoso. “Não conseguimos confirmar ou refutar a hipótese de que a chuva aumentaria a disseminação do vírus pelo aumento da umidade. Já foram feitos estudos prévios, mas não há comprovação”, garante. “No período chuvoso, as pessoas tendem a ficar em locais mais fechados, por conta da própria chuva. A preocupação é que o distanciamento social reduza e, devido a isso, as pessoas se contaminem mais. Mas não é a chuva em si que provoca isso”, ressalta.
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O Laboratório de Climatologia Geográfica do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (GEA/UnB) realiza um estudo que propõe a investigação das variáveis climáticas, levando em consideração o território nacional bastante diverso e o comportamento do patógeno Sars-CoV2 neste contexto.
Sob coordenação do professor Rafael Franca, o estudo intitulado “Correlações entre variações climáticas e a disseminação do novo coronavírus no Brasil” está em andamento, mas é altamente provável que haja um impacto indireto de determinados tipos de tempo sobre a disseminação do Sars-Cov-2. “Por exemplo, uma sequência de dias chuvosos implica no aumento da aglomeração de pessoas em ambientes fechados, condição muito favorável à disseminação do vírus”, exemplifica.
Por outro lado, Rafael diz que dias muito quentes, nos quais o uso do ar condicionado é maior, também estimulam aglomerações nesses ambientes refrigerados, o que facilita as transmissões. “Portanto, esse impacto indireto existe muito em função da natureza respiratória desse vírus, assim como os vírus que causam gripe ou o sarampo, por exemplo, que têm seu pico de transmissão durante o inverno”, completa o pesquisador.
Segundo o professor, há comprovação de que as características dos variados climas podem impactar o sistema imunológico. “Sabemos que períodos frios afetam o metabolismo e o sistema imunológico humano. Desse modo, no inverno estamos mais vulneráveis a tais infecções respiratórias e isso também é um impacto indireto do clima sobre a disseminação do vírus”, garante Rafael.
Durante as chuvas, o professor diz que é importante que a população continua adotando os devidos cuidados. “Cada vez fica mais claro para todos nós que os hábitos sociais têm um peso enorme no controle da epidemia. O combate ao vírus pela população passa por evitar aglomerações em ambientes fechados, lavar sempre as mãos, usar máscara e abrir as janelas sempre que possível. Vale o ditado antigo: “Em casa que entra Sol, não entra médico”. Portanto, evitar manter as janelas fechadas mesmo em dias chuvosos é fundamental”, ressalta o pesquisador.
Manter o distanciamento
Segundo dados do último boletim da Secretaria de Saúde e da Secretaria de Segurança Pública, o DF registra 5.874 casos ativos, 195.538 recuperados e 3.545 óbitos. O estudante universitário Pedro Ângelo Cavalcante Cantanhêde, 20 anos, fez parte do grupo de pessoas infectadas pelo vírus. De acordo com ele, os sintomas surgiram na última semana de julho. “Duraram pouco tempo, só quatro dias. Mas o segundo dia foi o pior, estava com muita dor de cabeça, outras dores em várias partes do corpo, principalmente na perna. Minha febre chegou a 38 graus, além do cansaço. Esse segundo dia eu passei a manhã e tarde inteiras na cama, sem força nenhuma para levantar e fazer as coisas que me demandavam mais”, diz.
Com o diagnóstico positivo, Pedro lembra que outros membros da família também foram contaminados. “Moro com meus pais e minhas duas irmãs. De nós cinco, quatro tivemos o resultado do teste para covid positivo. Então, entre nós, não mudamos nada no isolamento, porque já estávamos desde antes respeitando ao máximo a quarentena. Quando o primeiro apresentou sintomas, foi pouco tempo até que os outros também apresentassem”, diz o estudante.
Apesar dos número terem diminuído nos últimos dias, Pedro ressalta a importância da população continuar adotando os cuidados. “A população tem que colaborar para isso. Mesmo que saiam para restaurantes, ou encontrem amigos, nunca desrespeitem as leis de máscara, porque é assim que os casos podem voltar a aumentar”, ressalta. “Essa doença não é previsível, não se exponha desnecessariamente”, alerta.
Fonte: Correio Braziliense