Escrever livros, dar aulas e montar o próprio negócio são exemplos de realizações que podem levar tempo para acontecer. Fazer as três coisas de uma vez é ainda mais complicado. Com apenas 9 anos, o pequeno Ryan Maia, no entanto, não só cumpriu toda a lista, como ainda quer mais. Ele é um caso de superdotação – ou alta habilidade – no Distrito Federal.
Os sinais de que o menino tinha um aprendizado acelerado foram verificados ainda na pré-escola e chamaram atenção dos pais e professores. “A primeira sinalização foi no jardim de infância, ele aprendia as coisas muito rápido. Tanto que, já na primeira série [atual segundo ano], encaminharam ele para fazer alguns testes”, explica Márcio Alan, pai do garoto.
Foram seis meses de acompanhamento inicial. Após ter a dotação confirmada, Ryan passou a frequentar aulas na turma de altas habilidades da Secretaria de Educação. O intuito era não deixar que ele ficasse desestimulado com as aulas regulares. “Ele acabou passando para a turma de 12 anos. Tem aulas sobre ciência e outras coisas. Na escola ‘normal’, ele foi nomeado monitor da classe e, quando termina os exercícios mais rápido que todo mundo, vai nas carteiras ajudando os amigos”, diz Márcio.
O que deu grande reconhecimento ao garoto, no entanto, foi o livro Uma heroína e um Herói, publicado há dois anos, após grande esforço da família. A história rodou o Brasil e passou a ser utilizada por vários professores em salas de aula. Desde então, Ryan passou a ser requisitado para palestrar pelo país para contar a própria experiência.
O garoto já tem um livro publicado
Apesar da grande repercussão em cima do menino, ainda pequeno, Ryan afirma que não se sente incomodado. Eloquente, diz tratar com naturalidade os temas das diversas palestras. “Se é um assunto muito fácil, eu vou lá e falo. Se for algo mais difícil, como política, eu tenho um material para estudar”, explica.
Apesar da superdotação, o garoto faz questão de lembrar que ainda é criança. Gosta de brincar com amigos na rua onde mora, em Ceilândia, e assistir desenhos. Por sinal, foi assim que ele teve a ideia para lançar a hamburgueria Ryan Maia.
“Minha mãe queria abrir uma loja de doces, mas eu vi o Bob Esponja que trabalhava no Siri Cascudo e pensei: que tal termos uma lanchonete também? Fica a dica para os pais nunca dizerem que desenho não serve para nada”, diverte-se o menino.
Além de ajudar no empreendimento, criado com o próprio dinheiro arrecadado com palestras, ele estuda inglês, programação e oferece aulas pela internet. Mesmo com a agenda cheia, Ryan teve tempo de escrever novos livros. Um deles é continuação da obra de estreia e outro já está em fase final de produção: A Formiga Fora do Normal. “É a história de uma formiga que traça uma estratégia para afugentar o tamanduá do formigueiro onde ela mora”, adianta.
Dentre tantas coisas que Ryan já fez, ele revela um sonho ainda por realizar: ser ator. “Pretendo continuar como palestrante, mas ainda quero participar de um filme”, diz. Como protagonista”, ressalta.
O acompanhamento escolar de Ryan na turma de altas habilidades é feito pela professora Carla Oliveira, na Escola Classe 64 de Ceilândia (saiba mais no post abaixo). Ela conta que o aluno com superdotação comprovada é atendido até o ensino médio pela rede pública de ensino. “A gente faz um mapeamento dos interesses e habilidades do aluno para tentar desenvolver essas áreas com ele”, explica.
Carla afirma que Ryan tem facilidade não apenas com números: a oratória dele é fora do comum. “Ele sempre me surpreende nas respostas. Mesmo com a pandemia, manteve uma visão positiva sobre as coisas, dizendo que esse tempo em casa serviu para passar mais tempo com a família”, registra.
Para o psicólogo Igor Barros, é importante lembrar que as altas habilidades não se manifestam sozinhas. É necessário haver o estímulo do ambiente em que a criança está inserida. “A criança não acorda e aprender a ler. Ela precisa de estímulo visual, afetivo, de todos os tipos. Quanto antes desenvolver isso, melhor”, comenta Igor Barros.
Por esse motivo, é importante que aqueles que demonstram aprendizado fora do comum sejam levados a locais especializados, como o próprio acompanhamento da Secretaria de Educação.
Já a neuropsicóloga Múria Ribeiro destaca a necessidade de não se colocar muita pressão em cima da criança. “São altas habilidades, mas ela não tem todas as habilidades”, destaca.
Por esse motivo, é importante saber o limite de estímulo a ser dado a um superdotado. “Eles próprios já criam uma cobrança grande em cima deles. É preciso conversar bem e entender o que a criança gosta, para não ficar frustrada depois”, ensina a especialista.
Fonte: Metrópoles