Desde o assassinato da juiza Viviane Vieira do Amaral, na noite do feriado de Natal, a imprensa e a justiça brasileira estão tentando compreender: o que levaria um homem a cometer um crime tal brutal como o de feminicídio?A resposta pode estar nas dinâmicas sociais que levam ao machismo e à misoginia, mas parece que quem investiga o problema não está indo por este caminho. No Correio Brasiliense, por exemplo, a manchete chama atenção para o fato de que “a vítima abriu mão de escolta armada ‘por pena do ex-marido’”. Já O Globo destacou que Viviane “tentava preservar a imagem do ex-marido”. – Pandemia por coronavírus tem aumento de feminicídio; Hashtag expõe casos no TwitterFalta destacar, contudo, que nenhuma atitude que ela tomou em vítima justificaria um assassinato que, claramente, foi motivado pelo fato de que ela era uma mulher. No caso, ex-mulher. O caso chamou atenção do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luiz Fux. Ele afirmou à imprensa que as duas instituições estão consternadas e comprometidas com o desenvolvimento de ações para prevenir e erradicar o feminicídio. – Âncora do ‘JN’ cita feminicídio e critica fãs em fala contra contratação do goleiro Bruno“Tal forma brutal de violência assola mulheres de todas as faixas etárias, níveis e classes sociais, uma triste realidade que precisa ser enfrentada”, afirmou, em nota. Esta é uma postura extremamente necessária para tratar de casos como esses. Mas, infelizmente, não é constante. – Feminicídios crescem 44% no primeiro semestre de 2019 em SPDe acordo com dados levantados pelo portal G1 em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nos primeiros seis meses de 2020, 1.890 mulheres foram mortas de forma violenta, boa parte em plena pandemia do novo coronavírus – um aumento de 2% em relação ao mesmo período de 2019. Segundo o levantamento, 631 desses crimes foram de ódio motivados pela condição de gênero, ou seja, feminicídio. Os crimes também têm questões de raça, pois as mulheres negras são a maioria entre as vítimas. – Homem cola os olhos e agride ex-parceira em tentativa de feminicídio Entenda o caso que chamou atenção do STF:Três meses depois de denunciar o ex-marido à polícia e passar a contar com uma escolta cedida pelo Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, Viviane foi assassinada a facadas por Paulo José. O feminicídio ocorreu no fim da tarde de quinta-feira na Barra, no momento em que entregava as meninas ao pai, com quem esperavam passar a noite de Natal. Como juíza, Viviane teve um privilégio que muitas mulheres não têm quando procuram ajuda da justiça: ela foi ouvida. Depois de uma discussão, o Paulo a ameaçou de morte e ela chamou a Polícia Militar. Algumas horas depois, Viviane registrou queixa na 77ª DP (Icaraí) e solicitou medidas protetivas. – O que é a ‘defesa da honra’ e como ela legitima os feminicídios no BrasilA escolta durou dois meses, até que Viviane assinou um termo de responsabilidade no TJ ao pedir sua suspensão. Nesta quinta-feira, aceitou um pedido de Paulo José para encontrá-lo com as filhas numa rua de pouco movimento da Barra. Ela foi atacada ao sair do carro para entregar as crianças. A vítima estava sozinha com as filhas, de idade entre 7 e 9 anos, que assistiram a mãe ser morta a facadas pelo pai. – Epidemia de feminicídio escancara o machismo estrutural da sociedade brasileira Após o feminicídio, o engenheiro se sentou ao lado do corpo, enquanto uma mulher tentava consolar as meninas. Uma equipe da Guarda Municipal o prendeu, e, ao ser perguntado por que fizera aquilo, balançou os ombros, sem falar nada. No carro do assassino, foram encontradas três facas, o que dá à polícia a convicção de que se trata de crime premeditado. Levado à Delegacia de Homicídios, Paulo José permaneceu calado. Disse apenas que só se manifestará perante a Justiça. Em 2007, ele já havia sido denunciado por agressão e ameaça a uma ex-namorada. Nesta sexta-feira, sua prisão em flagrante foi convertida em preventiva, desfecho tardio para uma crise que se agravava.Fonte: Hypeness