George VI foi rei do Reino Unido por 16 anos e, conforme retrata o filme O Discurso do Rei, precisou por diversas enfrentar uma característica complexa e profunda durante seu governo: a gagueira. O pai da atual rainha Elizabeth II sofria de um caso grave de disfemia, nome técnico dessa desordem de fluência de fala, e teve de superá-la para falar no parlamento, discursar e se afirmar enquanto rei. Ele não foi, no entanto, o único político gago: o primeiro-ministro britânico Winston Churchill também sofria com a gagueira, e até mesmo o imperador Cláudio, que governou o Império Romano de 41 d.C. até o ano 54, era gago. Pois a história da gagueira ganha um novo capítulo com a eleição de Joe Biden para presidência dos EUA – sim, antes de fazer carreira na política e, por isso, naturalmente se tornar um orador, o 46º presidente estadunidense era gago.
Segundo conta, quando era jovem a única frase que Biden conseguia dizer sem gaguejar era um pedido de que passassem a bola para ele – gritado em campo, para os colegas de seu time de futebol americano no colégio Archmere, em Claymont, estado de Delaware, onde cresceu. O êxito no esporte, aliado a intensos treinos fora de campo – nos quais lia poemas em voz alta – ajudou Biden a construir sua confiança e, assim, começar a superar a condição. “Esporte era tão natural pra mim como falar não era. O esporte se tornou o meu passaporte para ser aceito. Eu não era facilmente intimidado em um jogo, mesmo quando eu gaguejava, eu sempre era o menino que dizia: passa a bola pra mim”, escreveu em seu livro de memórias.
Na convenção do Partido Democrata em 20 de agosto de 2020, um jovem de 13 anos roubou a cena ao falar remotamente sobre a inspiração que Biden era para ele, que também é gago. Brayden Harrington havia conhecido Biden em um encontro de campanha, e se emocionou ao descobrir que ambos faziam parte “do mesmo clube”, como disse.
“Foi incrível descobrir que alguém como eu havia se tornado vice-presidente. Ele me contou sobre um livro de poemas do [poeta irlandês W.B.] Yeats , que ele lia em voz alta, e como ele marcava as partes mais difíceis para facilitar a leitura em voz alta – e eu fiz a mesma coisa hoje”, disse Harrington em vídeo.
A experiência da gagueira, segundo Biden, foi determinante para seu desenvolvimento pessoal, e até mesmo político. “Eu aprendi tanto lidando com a gagueira. Me fez olhar para a dor das outras pessoas. O sofrimento de outras pessoas. Me fez entender que todo mundo – todo mundo – está lutando para superar algo, e às vezes tentando esconder algo”, afirmou, em discurso recente. O primeiro presidente gago dos Estados Unidos assumirá o cargo no próximo dia 20 de janeiro – quando fará um discurso histórico que será transmitido ao vivo para milhões de pessoas.
Fonte: Hypeness