Tem vezes que a gente quer ajudar e não sabe como. Aí vem a vida e mostra! A foto de uma criança nua na rua tocou o coração do fotógrafo Bismarck Araújo e o levou a fundar um projeto que hoje tem 500 voluntários e leva 10 toneladas de comida por mês para centenas de famílias carentes de 30 cidades do sertão da Bahia.
“Descobri muito novo o amor pela fotografia. Conquistei meu espaço registrando momentos felizes como casamento, festas, shows. Mas, foi a foto de uma criança nua na rua que mudou a minha história. Em Retirolândia, na Bahia, a pobreza era extrema e existiam dezenas de crianças nessa situação. Um dia registrei esse momento e postei nas redes sociais, em minutos a foto tinha sido deletada e tudo isso só me fazia pensar: se uma foto como aquela incomoda, é porque faz pensar. Se faz pensar, tem um potencial transformador”, relembra Bismarck Araújo, fundador do Projeto Retratos de Esperança.
“O olhar profissional dele foi capaz de ser sensível à dor do outro. A capacidade de unir e transformar a profissão em propósito de vida, foi revolucionária e impactante demais para toda uma comunidade. A coragem e o trabalho de Bismarck marcam uma geração, abrem portas para uma transformação enorme!”, afirmam Iara e Eduardo, os Caçadores de Bons Exemplos.
Censurada
Mas, o caminho até entender que ser agente de mudança era o seu papel dentro do mundo, não foi fácil. Depois que a foto foi censurada, Bismarck perdeu uma pessoa muito querida e como resultado de tanta dor e incômodo, ele se revoltou.
Largou tudo, viajou o mundo e depois um certo tempo entendeu que tudo que ele procurava para preencher o vazio estava dentro dele e foi aí que decidiu começar a ajudar de verdade quem precisava.
“Eu queria usar a fotografia para transformar vidas e, por isso, voltei para Retirolândia e comecei lá um projeto social, o Retratos de Esperança. No começo, eu fotografava pessoas e famílias em situação de muita pobreza, mobilizava amigos e levava cestas básicas para elas. Só que chegou o momento em que matar a fome apenas, deixou de ser suficiente. Existiam centenas de outras “fomes” urgentes, e talvez a maior fosse a fome de humanidade!”, conta o fundador.
Fome e lixão
Não demorou para a comunidade começar a falar de sonhos, casas, escola e oportunidade. E com isso, o trabalho do projeto foi crescendo cada dia mais.
“Em Santa Luz, começamos a atender pessoas que moravam em um lixão. As crianças não podiam ir à escola porque eram motivo de piada; os “meninos do lixão”. Ali, adultos e crianças disputavam com os urubus e os cachorros quem chegava primeiro nos caminhões de lixo. Eles não tinham o básico, não tinham comida e nem identidade”, lembra Bismarck.
A virada
Aos poucos tudo foi se organizando. Com doações e voluntários, construíram uma casa de 120 metros quadrados para dona Maria, uma avó que era a “chefe” do lixão.
Depois montaram uma escola de tempo integral, mais para frente um canil. E, com isso, foram aprendendo a escalonar o trabalho.
Hoje, por exemplo, são entregues mais de 10 mil quilos de alimentos por mês a famílias carentes em mais de 30 cidades do sertão da Bahia.
“Em Canudos, trabalhamos com famílias que só têm acesso a 60 litros de água por semana, o equivalente a uma descarga de vaso sanitário”, completa.
São mais de 500 voluntários, construindo casas e levando comida. Apoiando e apadrinhando crianças, disponibilizando aulas de futebol e de música e até oferecendo atendimento médico.
“O grande problema do mundo, para mim, é o egoísmo. A única solução para isso é aceitar o amor nas nossas vidas e compartilhar o que, um dia, recebemos de alguém que também não tinha nada e recebeu de outro. O Retratos de Esperança me salvou. Mudou a minha vida. Hoje eu vivo em um mundo de esperança porque todos os dias vejo boas ações que transformam vidas”, concluiu Bismarck.
Fonte: Só notícia boa