De acordo com pesquisa publicada no Archives of Sexual Behavior, metade dos homens gays e bissexuais se identificam como versátil, enquanto a outra metade é igualmente composta por ativos ou passivos.
Esses números sugerem que os gays versáteis representam a maioria, mas parece haver ceticismo quando expressamos essa preferência. Depois de falar com dezenas de homens sexualmente versáteis, mais da metade disse ter sido sujeita a algum tipo de julgamento por parte dos parceiros.
“As pessoas sempre tentam forçá-lo a escolher uma posição em detrimento da outra”, David, 29, diz à NewNowNext. “Quando alguém descobre que eu também sou passivo, de repente você não é mais versátil, você é apenas mais um passivo disfarçando. É frustrante porque gosto de ambos igualmente, só depende da química que tenho com meu parceiro”.
O ator pornô Jeremy Feist é versátil, mas, como David, diz que o papel que ele assume depende inteiramente de com quem está transando. Por exemplo, ele tende a ser ativo com o marido, mas quando filma, ele costuma fazer passivo, ele conta que tem uma tattoo nas costas que diz “(mete) mais forte” e isso pode influenciar seu trabalho coo ator.
“Se você sai com 99 caras sendo ativo e um dia você resolveu ser passivo daí você acaba de virar um “power-bottom” (super passivo). Lembro-me de uma vez que comi um cara e quando cheguei, eu estava de jock, e ele disse: ‘Espera, você também é passivo? Porque só passivo usa joc, não?”
Existem várias teorias que explicam por que alguns categorizam os homens versáteis como passivos, a maioria das quais se origina do sexismo e da vergonha. Alguns assumem que o passivo usa versátil como rótulo para poupá-los de julgamento, a implicação é que os passivos são menos “masculinos” e, portanto, menos desejáveis.
A aparência também influencia esse ceticismo sobre o gay versátil. Quando se deparam com alguém de estatura maior, as pessoas tendem a associar isso a uma definição convencional de masculinidade e assumir que são ativos. Por outro lado, alguém de estatura menor parece mais “feminino” e presumimos que seja “inferior sexualmente” assumindo o papel de passivo.
“Um ex, que era 100% ativo, costumava me envergonhar e dizer que não sou ‘homem o suficiente’ para superá-lo e que seria mais desejável se fosse 100% passivo”, disse Wilson, 27, ao NewNowNext . “Definitivamente isso detonou minha autoestima por um tempo, mas felizmente a terapia e o amor-próprio me ajudaram a curar.”
Depois de conduzir uma entrevista de acompanhamento para o estudo acima mencionado sobre preferências posicionais, os pesquisadores descobriram que 48% dos homens versáteis são passivos com mais frequência, enquanto 52% são mais ativos. Isso confirma que a suposição de que homens versáteis são realmente passivos “encubados”.
As pessoas estão condicionadas a ver as coisas de uma perspectiva binária. Bom ou ruim, masculino ou feminino. “O excesso de confiança neste tipo de pensamento tudo ou nada é uma forma de distorção cognitiva que muitas vezes resulta em simplificar demais questões complicadas e ignorar a área cinzenta”, acrescenta Olavarria.
Essa mesma distorção cognitiva é usada para invalidar pessoas bissexuais (que, assim como outras pessoas, representam a maior proporção da comunidade LGBTQ), pois suas tendências desafiam o pensamento binário. Mas, como os bissexuais, gays versáteis ainda podem se identificar como versáteis mesmo preferindo mais uma posição ou outra.
Todos nós temos direito às nossas próprias preferências, mas ficar de um lado do binário ativo / passivo pode nos roubar uma experiência esclarecedora – ou simplesmente sexy. Mesmo que descubramos que a versatilidade não é nossa, a exploração sexual consensual pode transmitir alguns conhecimentos valiosos.
O fato é que nossa identidade sexual é exatamente isso: a nossa. A maneira como sentimos, experimentamos o desejo e agimos de acordo com esses desejos é legítima. Então, vamos acreditar na palavra das pessoas. Em vez de julgar homens gays ou bissexuais quando eles dizem que são versáteis, vamos apoiá-los e interrogar nossas próprias noções preconcebidas. Acredite neles e reconheça que qualquer ceticismo deriva de ideais sexistas e heteronormativas, que não têm lugar em nossa comunidade.
Fonte: Põe na roda