Descoberta pela primeira vez em 1904, uma inscrição feita a lápis em uma das quatro versões da pintura “O Grito”, do norueguês Edvard Munch (1863 – 1944) parece ter finalmente ganhado uma explicação. Escrita pelas mãos do próprio artista, a frase, ao que tudo indica, teria ligação direta com a saúde mental e o estado de espírito do pintor.
Escrita no canto superior esquerdo da obra, a frase diz: “Só pode ter sido pintada por um louco”. Assunto de debate há mais de um século, a inscrição originalmente foi atribuída a Munch, mas mais tarde foi revista e creditada a um vândalo.
Contudo, uma nova análise feita por especialistas do Museu Nacional da Noruega sugere que, de fato, a autoria partiu do pintor do quadro famoso por representar angústia e agonia.
Fotografia que mostra a inscrição a lápis no quadro ‘O Grito’
Em foto concedida pelo Museu Nacional da Noruega, é possível ler a frase a lápis escrita por Munch sobre a tinta seca de ‘O Grito’
Mai Britt Guleng, uma especialista em Munch e curadora do museu, começou a investigar a inscrição e, após consultar colegas, deduziu que era obra do mestre.
Segundo Guleng, o comentário, supostamente feito em 1895, revela o estado de espírito de Munch naquele momento. De acordo com a curadora, o artista teria escrito a frase depois de participar de uma reunião em que um estudante de medicina disse que aquela pintura deveria ser obra de alguém com transtornos mentais. “É uma combinação de ser irônico, mas também de mostrar a própria vulnerabilidade”, diz Guleng.
“Na verdade, ele estava levando aquilo muito a sério e estava magoado, porque há um histórico de doença na família dele e ele estava muito ansioso, mas se mostrou marcado por isso”, explica ela.
Foto de um homem reproduzindo a pose de angústia representada no quadro ‘O Grito’
Famosa mundialmente, a pintura de Munch já virou até emoji
Como afirma Guleng, Munch voltou ao incidente de 1895 repetidamente em cartas e, segundo a especialista, mostrava-se obcecado com o tema “doença” depois de ver a irmã morrer de tuberculose quando criança, e a mãe sucumbir à mesma doença.
Para a curadora, esse pano de fundo pode ter levado o artista a fazer as marcações na pintura como forma de responder às críticas à obra e aos próprios demônios internos. Ela diz: “Foi muito importante para ele assumir o controle da própria compreensão e também de como os outros o entendiam.” “Este foi talvez um ato de assumir o controle porque outros disseram que ele estava louco, como quem diz, ‘Posso fazer uma piada sobre isso’”, finaliza ela.
Guleng teve ajuda de uma equipe formada pelo conservador Thierry Ford, pelo bibliotecário-pesquisador Laffe Jacobson e pela editora Hilde Bøe, que usou tecnologia infravermelha para analisar a caligrafia da inscrição e compará-la com as cartas de Munch. A pintura ficará em exibição no novo prédio do Museu Nacional da Noruega, com inauguração prevista para 2022, em Oslo, onde ficará ao lado de outras pinturas de Munch, em uma nova sala dedicada ao artista. Texto escrito com informações do “Guardian”.
Fonte: Hypeness