Rio de Janeiro – Treze anos após o assassinato da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, ter comovido o país, os brasileiros choram a perda de Henry Borel Medeiros, de 4 anos.
“A morte brutal, os desdobramentos das investigações e a comoção causada na população são muito parecidos e doloridos”, diz a administradora Ana Carolina Oliveira, de 37 anos, mãe de Isabella.
Ela traça um paralelo entre a morte da filha e a de Henry. Nos dois casos, a brutalidade se deu dentro de casa, enquanto as crianças estavam sob guarda de quem deveria protegê-las. Tocada com a história, a mãe de Isabella enviou mensagens de solidariedade para o pai do menino, Leniel Borel de Almeida Junior.
Como fator em comum entre os casos, está o fato de que parentes diretos das crianças tinham o dever de cuidar.
No caso Isabella Nardoni, agredida e arremessada da janela do sexto andar do Edifício London, na zona norte de São Paulo, no dia 29 de março de 2008, o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram condenados pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e fraude processual, em 27 de março de 2010.
Segundo as investigações, a menina foi asfixiada por Anna Carolina e jogada por Alexandre, do apartamento onde morava o casal. Os dois sempre negaram o crime. Nardoni foi condenado a 31 anos e 1 mês de reclusão e 24 dias-multa, e Jatobá, a 26 anos e oito meses de reclusão e 24 dias-multa.
Henry
No caso de Henry, ocorrido no Rio, a Polícia Civil do Rio trabalha com a hipótese de o menino ter sido espancado pelo padrasto, o vereador Dr. Jairinho (sem partido), com a anuência da mãe da criança, Monique Medeiros. Jairinho e Medeiros estão presos e negam o crime.
Um laudo do Instituto Médico Legal mostrou que o menino tinha 23 lesões severas, que não são compatíveis com uma queda da cama (versão dada pelo casal como a causa da morte da criança). Babá da criança, Thayna Ferreira prestou depoimento confirmando a rotina de agressões do padrasto e que, além da mãe, tios e avó materna da criança sabiam dos espancamentos.
Em depoimento à Piauí, Ana Carolina Oliveira conta que “sentiu algo estranho” com uma entrevista da mãe e do padrasto do Henry e que viu semelhanças com o ocorrido com a filha, Isabella.
“Senti frieza, uma emoção falsa e versão combinada dos fatos. Naquele momento, pensei o pior mesmo. Por mais que as pessoas ensaiem, criando uma versão falsa para o crime, a verdade não consegue ser escondida nem por elas mesmas”, afirma.
Para Ana Carolina, o mais tocante, além da brutalidade do caso, são coincidências com o que viveu na morte da filha.
“Esse tipo de crime você jamais imagina que vai acontecer em sua família. Eu mandei na sexta-feira (9/4), uma mensagem por WhatsApp ao Leniel Borel, pai do Henry. Meu coração estava pedindo para fazer isso. Eu me coloquei no lugar dele. Escrevi que muitas pessoas estão neste momento mandando mensagens, assim como aconteceu comigo com a morte da minha filha”, conta.
Em resposta para a troca de mensagens, Leniel respondeu à Ana Carolina: “Você não sabe como suas palavras são importantes neste momento. Está sendo muito difícil. Não paro de pensar no meu filho. Além do meu filho, eles levaram a minha paz”.
Revolta
No desabafo de Ana Carolina, ela conta que o mais dolorido é saber que os crimes aconteceram quando ela e Leniel entregaram seus filhos para quem deveria cuidar e zelar.
“Entregar um filho para nunca mais voltar é o que mais machuca, revolta. Não consigo explicar o tamanho dessa dor. No caso da Isabella, o pai foi o culpado. No do Henry, a mãe está presa como suspeita de participar da morte do próprio filho. Justo a mãe, que deu vida à criança. Eu sou da seguinte opinião: as dores não são comparáveis. Mas elas são enormes, imensuráveis”, comenta.
Para a mãe da menina, a Justiça é o que conforta, de alguma forma, o coração.
“O julgamento e a condenação encerram um ciclo, colocam um ponto-final em uma história muito triste. No meu caso, entre o assassinato da minha filha e a condenação, passaram-se dois anos. A imprensa teve um papel importante no caso da Isabella, assim como está tendo no do Henry. Ficar em cima ajuda a colocar uma pressão nas investigações, por Justiça”, lembra.
Ana Carolina diz que se sente grata pelo amor e carinho recebidos, mas que também é preciso que o luto seja vivido.
“Eu, como forma de tentar aparentar alguma normalidade no meio de tudo, voltei a trabalhar duas semanas após a morte da minha filha. Mas não dei conta, precisava me voltar para mim e buscar ajuda. Pedi então uma licença e fiquei três meses afastada”, completa.
Fonte: Metrópoles