

A educação chega de caminhão às crianças em quarentena em uma zona rural mexicana, pelas mãos e rodas do professor Salvador Olvera Marín. Improvisando uma sala de aula a céu aberto com uma lousa adaptada à parte de trás de seu próprio veículo e sempre mantendo os protocolos de segurança, Marín encontrou uma solução para seguir ensinando aos alunos que estão em casa por conta da Covid-19 – mas que não podem ter aulas online por não terem meios de se conectar à internet.
O professor vive na cidade de La Sierra de Querétaro e, desde março do ano passado – quando as aulas foram suspensas na escola Miguel Hidalgo, na comunidade de San Pedro Escanela a cerca de 350 km da Cidade do México – encontrou essa solução humanitária e efetiva para o dilema das aulas durante a pandemia. Viajando até pontos próximos da casa dos alunos, o professor passou a “montar” sua sala de aula ao ar livre e sempre de máscara, para assim seguir lecionando e respeitando as exigências sanitárias dos pandêmicos tempos atuais – especialmente para os alunos que não possuem computador, smartphone ou meios de se conectar à rede para aulas remotas.
Os custos de transporte e dos equipamentos de segurança são pagos pelo próprio professor, que gosta de lembrar que uma pandemia não é uma oportunidade de férias, e por isso faz questão de lecionar. “Não é o mesmo desempenho de quando você está na escola presencialmente, mas para mim é muito satisfatório que as crianças estejam progredindo”, comentou Marín, em entrevista para o site mexicano El Queretano. “Seria pior se não fizéssemos nada. Sempre que posso durante a semana estou com eles, até aos sábados”, afirmou.
Protocolos, xerox e homenagem
Segundo Marín, as aulas acontecem seguindo protocolos e mantendo os hábitos de segurança para evitar qualquer possibilidade maior de contágio. “Falamos de máscara e levamos gel no caminhão. Reunimos duas ou três crianças em lugares determinados – os que não consigo visitar em um dia, vou no dia seguinte”, comentou. As aulas muitas vezes acontecem na beira da estrada, com carteiras improvisadas ou mesmo com as crianças sentadas ao meio-fio ou diretamente no chão.
Os cadernos, gizes, a lousa e outros materiais de trabalho – incluindo gasolina e manutenção do veículo nas viagens – também vem sendo custeados pelo próprio Marín, que agora luta para conseguir uma fotocopiadora para seguir com sua luminosa iniciativa de educação volante. “Estamos batalhando por uma fotocopiadora pois a que tínhamos quebrou. Já solicitamos ao governador, estamos aguardando o tramite para ver se ele nos proporciona, pois temos que copiar os trabalhos para entregar aos alunos”.
Apelidado de “Chava”, o professor se tornou uma espécie de celebridade local depois que as fotos de suas aulas na pandemia viralizaram. Com isso, a Comissão de Educação e Cultura do Congresso do México decidiu recentemente lhe homenagear e celebrar seu trabalho, que encarna o sentido mais profundo da mais importante das profissões.
Fonte: Hypeness