Prestes a se formar em pedagogia, aos 22 anos, uma jovem brasiliense ainda busca forças para superar os traumas que feriram seu corpo e deixaram marcas profundas na alma. A futura professora foi estuprada pelo próprio tio, seguidamente, entre 2003 e 2010. O pedófilo foi preso após cumprimento de uma decisão condenatória na terça-feira (18/5) pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) do Distrito Federal.Em entrevista ao Metrópoles, a vítima contou sobre os momentos de pânico causados por alguém que deveria cuidar dela e protegê-la. A jovem lembra que os abusos começaram quando ela tinha entre 3 e 4 anos: “Foi nessa época que aconteceu a primeira vez. Lembro que estávamos em uma antiga residência da minha mãe. Ela trabalhava em casa de família. Então, eu ficava com minha avó materna, e meu tio morava naquela casa”.O criminoso esperava o momento certo para atacar e contava com a confiança de todos os familiares, que jamais imaginariam os estupros que estavam sendo cometidos. “Um dia, quando todos estavam assistindo TV na sala, ele me chamou para dormir e eu fui. Só que no meio da noite ele começou a passar a mão nas minhas partes íntimas, passou o pênis dele na minha vagina. Essa foi a primeira vez”, lembrou, com a voz embargada.Ela decidiu contar a sua história para evitar que o mesmo aconteça com outras crianças. No início dos abusos, a menina não fazia ideia do que estava ocorrendo. Com o intuito de atrair a atenção da garotinha, o pedófilo oferecia doces para, assim, ter a chance de cometer a violência sexual.“Ele chegava a introduzir o pênis dele na minha vagina. Na época em que contei para minha mãe, eu já tinha 10 anos e ele devia ter uns 27. Quando eu era pequena, ele falava que eu iria ganhar doce ou algo desse tipo. Mas quando fiquei maior, ele começou a ameaçar. Falava que minha mãe não iria acreditar em mim ou que iria bater em mim e na minha mãe”, recorda-se.A jovem não soube precisar quantas vezes foi estuprada ao longo dos sete anos em que esteve perto do tio. “Eu lembro que ele consumou o estupro na maioria das vezes que ele vinha até mim. Outras vezes, ele passava só a mão, ou alguém chegava e ele parava”, disse. Para tentar escapar da violência, a menina passou a inventar desculpas para não acompanhar a família até a casa do agressor.Falsa gravidez
Mesmo depois de se casar e ter duas filhas, o pedófilo manteve a rotina de estupros cometidos contra a sobrinha: “Eu tinha 10 anos quando contei sobre o meu tormento. Tive a ideia de inventar uma história em que eu tinha um namorado e achava que estava grávida, sabendo que minha professora iria falar com minha mãe. E foi isso que aconteceu. A professora falou com minha mãe e quando ela veio falar comigo, contei a verdadeira história”.Após a prisão do agressor, a jovem experimentou uma mistura de sentimentos. “Era felicidade, medo, ansiedade… sinceramente, o que eu mais sinto é medo, pois, infelizmente, a nossa Justiça ainda é muito falha. Tenho medo de ele sair da cadeia e tentar algo contra minha família e contra mim”, desabafou.O agressor foi preso enquanto estava escondido na cidade goiana de Iporã. Contra ele já havia uma decisão condenatória estipulando o cumprimento de pena de 14 anos de reclusão pelos estupros cometidos contra a jovem quando ela era criança.Segundo a delegada-chefe da DPCA, Simone Pereira, o tio será recambiado para o sistema penitenciário da Papuda. “Como o inquérito foi instaurado aqui na época e a sentença condenatória foi expedida pela Justiça do DF, o sentenciado cumprirá a pena em nosso sistema carcerário”, explicou, no dia da prisão.Exploração Sexual
A detenção ocorreu no Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data foi escolhida em memória da menina Araceli Crespo, que foi raptada, drogada, estuprada e assassinada no Espírito Santo, no dia 18 de maio de 1973.Entre janeiro e dezembro do ano passado, 1.517 crianças e adolescentes foram vítimas de estupro de vulnerável na capital da República, segundo dados do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).Os mais de 1,5 mil casos incluem, além de outras situações, conjunção carnal ou prática de outro ato libidinoso com menor de 14 anos. Ceilândia foi a região administrativa com o maior número de ocorrências, 92, contra crianças e adolescentes.Fonte: Metrópoles