O LSD provoca um estado mental semelhante a uma experiência psicótica, que pode ser uma ferramenta de cura no tratamento de transtornos mentais, ansiedade e depressão.
É o que aponta a conclusão de um estudo conduzido por cientistas do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), publicado nesta terça-feira (13/7), no Psychological Medicine, periódico da Universidade de Cambridge, da Inglaterra.
Durante a pesquisa, foram observados os efeitos da droga em 24 adultos saudáveis que receberam uma dose pequena e controlada de LSD ou placebo inativo. Para checar se a experiência psicótica ocorreu, os cientistas aplicaram testes que mediam os efeitos psicodélicos, como sugestionabilidade, experiências místicas e desafiadoras (como se a pessoa estivesse em contato com o divino), dissolução do ego e o potencial terapêutico da droga.
Os questionários exploravam, por exemplo, experiências com emoções intensas atribuídas a ideias, pessoas e objetos, padrões ou a previsão de situações muito importantes, com grandes significados para o participante.
Cada voluntário ingeriu a droga em uma sessão e placebo na outra, separadas por 14 dias. Para controlar os testes, os participantes não eram informados sobre qual das pílulas foi ingerida, e foram acompanhados de perto pelos cientistas.
Ao longo de oito horas, as pessoas foram submetidas a testes e preencheram questionários na presença da psicóloga Isabel Wießner, primeira autora do estudo e pesquisadora da Unicamp, e de um psiquiatra, Marcelo Falchi, coautor do estudo e pesquisador da mesma instituição. No dia seguinte a cada sessão, era realizada mais uma bateria com duas horas de testes.
O objetivo do estudo, os autores escrevem, é explorar a relação entre a experiência psicótica, psicoterapia e experiência psicodélica. A pesquisa brasileira se insere em uma frente recente de investigações sobre o uso das drogas psicotrópicas – ou “psicodélicas”, como é o caso do LSD – como possibilidade terapêutica para patologias difíceis de tratar, como depressão, transtorno de estresse pós-traumático, esquizofrenia e outras.
Essa linha de investigação foi bastante explorada no século 20 mas, na década de 1960, tanto o LSD quanto outras drogas psicotrópicas foram criminalizadas e proibidas em vários países, interrompendo os estudos científicos sobre o potencial terapêutico.
“A sugestão é um processo fundamental na hipnoterapia, em que o paciente entra em estado de transe e consegue experimentar de modo mais fácil e vívido o que o terapeuta sugere, por exemplo visualizar uma relação difícil com a mãe, criar um símbolo para concretizar essa relação e trabalhar com ele”, explica Wießner.
“Os resultados apontam para a importância da atribuição de significado para o modelo de psicose do LSD e indicam que a terapia psicodélica assistida pode se beneficiar de sugestões terapêuticas que promovam experiências místicas”, concluem os autores no estudo.
Fonte: Metrópoles