Entre os registros que vão servir para contar o período histórico que estamos vivendo com a pandemia de covid-19 estarão as palavras de Maria Célia da Cunha de Oliveira, uma das vítimas da doença que tirou a vida de mais de meio milhão de pessoas no Brasil.A história emocionante foi contada pelo G1. Durante o tempo em que passou internada lutando contra a doença, a mulher de 52 anos registrou memórias, sentimentos e a rotina do hospital em um diário, que recentemente foi encontrado por sua filha, Mariane Alves de Oliveira. – Mulher em estado vegetativo há 20 anos pode ser menina desaparecida em 76 no ESMariane com a mãe Maria CéliaO sonho de Mariane com a mãe
Maria Célia ficou internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Éden, em Sorocaba (SP), durante 30 dias até seu falecimento em 28 de junho. Ela teve uma passagem pela Santa Casa da cidade, onde foi intubada dia 12 de junho e, depois, foi transferida, ainda intubada, para a Unidade de Tratamento Intensiva (UTI). Detalhes sobre esse período difícil foram revelados por Mariane, que encontrou o diário da mãe após um sonho. “Eu sonhei com ela e no meu sonho eu vi ela, perfeitamente. Ela me disse que havia escrito para mim e que eu precisava encontrar. Eu fui na UPA do Éden, mas não entregaram nada. Fui à Santa Casa, mas só entregaram uma coberta dela”, contou Mariane, em entrevista ao G1.Mariane precisou lutar pelo pertence da mãe, mas ela estava determinada em realizar o desejo que Maria Célia comunicou por meio do sonho. “Disse aos funcionários do hospital que não iria sair do local se não entregassem as cartas e o diário que minha mãe havia deixado”, disse. Quando finalmente conseguiu o caderno, a filha notou os dizeres na capa: “Para Mariane”. Ainda vivendo o luto da perda, ela contou ter ficado surpresa com os textos de Maria Célia. “Minha mãe era muito fechada, ela nunca escreveu, até em rede social nunca teve hábito de escrever. Ela mais falava, mandava áudio, mas escrever era raro e escrever dessa maneira que ela escreveu. Se eu não tivesse sonhado eu nem iria imaginar”.Registros do diário
Às vezes eram relatos sobre a rotina, outras vezes Maria Célia desenhava orações. Cada capítulo começa com a data em que estava escrevendo, seguido pelo nome do funcionário do hospital de plantão naquele período. Em todos os formatos, ela contou, de alguma forma, o que estava vivendo. “Estou escrevendo agora cedo, a respiração está boa, estou conseguindo porque tem horas que nem isso consigo fazer, mas Deus é maior e vamos vencer esse mal. Meus amigos de quarto, quase todos intubados, só escuto o som do respirador e um monte de aparelhos. Essa semana vai ser revigorante, vou vencer. Cada vez que lembro o quanto é difícil respirar, lembro que usar duas máscaras para ir ao mercado não é nada”, escreveu Maria Célia no diário. Maria Célia também deixou conselhos para os filhos (Mariane tem um irmão) e pediu para que eles vivessem intensamente e cuidassem da família. “Superando minhas ansiedades e aprendendo a respirar. Obrigada senhor, meu Deus e meu pai Jesus, e todos os anjos e santos por mais esse aprendizado. A vida nunca mais será a mesma, vou sempre valorizar as coisas simples que vêm de graça e nem percebemos o quanto é bom e necessário. Obrigada senhor, obrigada meu pai.”Fonte: Hypeness