Monja Coen é, talvez, o principal nome do budismo em terras tupiniquins há uns bons anos. A sacerdotisa da filosofia budista coleciona milhões de seguidores nas redes sociais, mais de 500 mil livros vendidos e um extenso portfólio de monitorias, palestras e outros tipos de serviço para o público.
Os conselhos bastante diretos da Monja sobre a vida se tornaram extremamente populares nas redes sociais, mas Coen já transmite o pensamento do budismo zen japonês de forma ampla desde os anos 90. A filosofia de vida que promove uma relação mais calma, serena e mediada com o mundo não parece ser condizente com o consumo de bebidas alcoólicas.
Em uma live publicada no seu Instagram há uma semana, a Monja Coen afirmou ter se tornado uma ’embaixadora da moderação da Ambev’. A Ambev é a produtora das cervejas Brahma, Skol, Antarctica, Stella, além de vinhos, vodcas e outras bebidas alcoólicas e não-alcoólicas. “Autoconhecimento é liberdade. A Ambev está falando sobre moderação e autoconhecimento e me convidou para ser embaixadora da moderação da marca Ambev. Eba! Você se conhece em profundidade? Você percebe qual é a necessidade verdadeira e quais são os limites de seu corpo e de sua mente? É preciso conhecer-se. O autoconhecimento nos liberta. Nos torna mais leves”, disse Coen.
Será que o autoconhecimento torna tudo mais leve? Enquanto a Organização Pan-Americana da Saúde revela que 35% das pessoas entre 30 e 39 anos estão tomando doses excessivas de álcool durante a pandemia e que o alcoolismo se tornou mais comum por conta do isolamento social, a Ambev dobrou seus lucros entre o primeiro trimestre de 2021 em comparação ao ano anterior. A receita da empresa foi de R$ 16,6 bilhões e o lucro de R$ 2,7 bilhões entre janeiro e março desse ano. – Bebidas alcoólicas pesam no aumento da emergência climática, mas pouco é dito sobre o tema “Tanto marca como embaixador chegam a um acordo comum. Será que a @monjacoen acredita mesmo nesse papo bem intencionado da Ambev que, concomitante a contratação desse discurso, investe pesado em outras frentes demonstrando completo descaso na preocupação com qualquer mensagem de autoconhecimento e moderação no consumo? Sinceramente, eu não sei aonde iremos chegar. Daqui a pouco podemos ter padres sendo embaixadores de Rivotril!. Será?”, afirmou a doutora em antropologia do consumo, Hilaine Yaccoub, no Instagram.
Confira a postagem de Yaccoub:
O caso de uma monja se tornando embaixadora de uma empresa de bebidas alcoólicas não é o primeiro a trazer esse debate para a mesa do brasileiro. Em 2014, o cantor Roberto Carlos abandonou o vegetarianismo que professou por anos em troca de um comercial para a Friboi. – Disney é criticada por holograma projetado no Pão de Açúcar: ‘Não seja pateta’ Anos antes, o cantor Tom Zé havia feito propagandas cedendo sua voz a uma campanha da Coca-Cola. Criticado nas redes sociais, o baiano compôs um disco – talvez a peça inaugural do cancelamento no Brasil -, ‘Tribunal do Feicebuqui’. Mas o caso de Coen é um pouquinho diferente e levanta preocupação: até onde as marcas podem chegar para promover suas ideias?
Fonte: Hypeness