O verbo “assumir” traz uma carga e subentendesse que ao assumir algo, a pessoa está declarando uma culpa. É por isso que Daniel Queiroz Galvão, em texto publicado na revista Caros Amigos propõe uma mudança quando falamos de sexualidade. Ao invés de assumir a orientação sexual, seja homossexual ou bissexual, por exemplo, a pessoa deve declarar qual é a sua sexualidade.
Muito dessa culpa de se colocar como uma pessoa gay vem de uma ideia que nos é passada desde criança e faz parte de nossa criação, a ideia de que o ‘normal’ é ser heterossexual e esse simples fato faz uma pessoa ser melhor do que uma pessoa homossexual. Essa ideia é fundamentada em uma sociedade cisheteronormativa que procura apontar como errado tudo aquilo que tem potencial para mexer nas estruturas de poder, comandada geralmente por um homem, cisgênero (que se identifica com o sexo atribuído no momento do nascimento), branco e heterossexual.
A própria imprensa e estrutura de comunicação, aponta Daniel, durante muitos anos trabalhou para perpetuar essas estruturas de poder. Novelas, programas dominicais, ancores de telejornais e sobretudo programas ditos humorísticos usavam de piadas preguiçosas e preconceituosas para manter o padrão heteronormativo da sociedade.
Ainda estamos mudando nossa sociedade a passos lentos – e que bom que estamos, apesar de devagar – mas durante anos e anos não houve espaço para a diversidade, seja de gênero ou sexualidade, na sociedade brasileira. O discurso reproduzido sempre foi o de desqualificar ou ridicularizar aquilo que era visto como diferente do que era imposto. Internauta faz depoimento poderoso sobre a experiência de ter sido uma “criança viada” Por isso, Daniel aponta para o fato de a própria comunidade LGBTQIA+, por vezes, utiliza o termo que acaba reforçando os contornos de uma sociedade construída em um estereótipo monstruoso. Mesmo sem a intencionalidade, quando uma pessoa diz assumir sua orientação sexual ou identidade de gênero, ela está intensificando um estigma de culpa.
O verbo assumir esta associado a um fardo, dor, crime ou responsabilidade excessiva e isso não condiz com a realidade de uma pessoa LGBTQIA+ que simplesmente existe e vive sua liberdade, por isso, a importância de ressignificar esse ato de se posicionar de forma afirmativa sobre a sua própria existência.
A proposição do autor é por um termo mais próximo de satisfação e desejo, por isso a importância de declarar afetos, amores, paixões e forma de se colocar no mundo. Ser gay, lésbica, panssexual, bissexual ou transgênero não é pecado, não é errado e não deve vir acompanhado de um sentimento de culpa, por isso é necessário fazer uma declaração coletiva de amor e existência, declarem-se vocês mesmos e sejam, existam!
Fonte: Hypeness