Os problemas causados pela covid-19 vão além dos sintomas de infecção. Ao longo de mais de um ano de pandemia, pacientes relatam ter sequelas causadas pelo novo coronavírus. As queixas vão desde problemas na pele a perda de movimentos e memória. Especialistas alertam para a necessidade do reconhecimento e tratamento das sequelas. Visando atender e tratar as pessoas que sofrem com o pós-covid-19, a rede Sarah criou, em junho do ano passado, um programa de reabilitação. Atividades lúdicas unidas à ciência ajudam pessoas a se recuperarem das sequelas. Quem passa pelo tratamento relata melhora na qualidade de vida.
Fabiana Rodrigues, 32 anos, pegou covid-19 em março de 2021. Grave, ela precisou ser internada e passou por duas intubações. “Fiquei 26 dias internada e tive 75% do pulmão comprometido. Quando me curei, não conseguia mexer nada, nem falar”, conta. Após trabalhos com fisioterapeutas e fonoaudiólogos, Fabiana, agora, ainda tem dificuldade de movimentar a perna direita. “Estou há três meses sendo tratada com os profissionais do Sarah. Nasci de novo. Meu sonho é voltar a cozinhar no meu restaurante, que tive que fechar quando fui internada”, comenta a moradora do Paranoá.
O pós-covid-19 também foi complicado para o servidor público Gustavo Henrique Marques, 42. Ele foi infectado em junho do ano passado e ficou dois meses intubado. “Precisei do ECMO, o pulmão artificial. Eu me recuperei, mas com alguns problemas. Perdi massa muscular, tive problemas de movimentação na perna esquerda e cansaço extremo. Não consegui voltar ao trabalho até hoje, porque ficar sentado cansa”, diz. O morador da Asa Sul buscou a rede Sarah para realizar exames e tratar as sequelas da doença. Com tecnologia avançada, os profissionais conseguem identificar quais problemas motores precisam de atenção, além de registrar a evolução do paciente. “Já sinto a diferença depois do tratamento. Eu não conseguia andar, sentar. Há um ano em recuperação, até hoje uso bengala, mas muito por causa do cansaço”, completa Gustavo.
Dores
O fisioterapeuta Thiago Rampazzo atua no atendimento de pacientes com sequelas do novo coronavírus desde o início do programa do Sarah. “As queixas são variadas. Mas, além das alterações neuropsicológicas que são relacionadas à memória e outras coisas, o que mais temos visto são questões de fadiga e dores que pioram com o tempo”, explica.
Ele explica que, no caso dos problemas motores, a solução é acompanhamento e paciência. “Trabalhamos questões para estimular que as pessoas retomem as atividades básicas de trabalho, de casa”, diz. Segundo Thiago, os resultados são positivos. “Gradualmente, as pessoas vêm retomando a vida de antes da covid e voltando a fazer aquilo que faziam, com poucas limitações. Para isso, individualizamos o cuidado e adequamos o atendimento a cada pessoa”, explica.
Além de retornar às atividades do dia a dia, alguns pacientes descobrem novos hábitos durante o tratamento. Foi o caso de Márcia de Castro, 48. Ela foi infectada pelo Sars Cov-2 em junho de 2020 e precisou ser internada. “Recebi alta em seis dias, mas fiquei sem andar e com dores na parte superior do corpo. Fiquei um ano procurando ajuda”, relata. Ela conheceu o programa da rede Sarah por meio da mídia e, hoje, as dores estão menores. Durante o tratamento, ela iniciou a prática de remo, na unidade do Lago Norte do hospital. “Eu me encontrei. Vou até competir em um torneio no fim do ano”, conta.
Reabilitação
A neurocientista Lúcia Willadino Braga, presidente da rede Sarah, afirma que a criação de um programa voltado para o tratamento das sequelas da covid-19 veio devido à alta demanda. “Percebemos que muitas pessoas chegavam reclamando de sintomas mesmo após o fim da infecção”, conta. A médica explica que o atendimento começa com uma avaliação. Depois, cada um é encaminhado para uma consulta com o especialista que precisa. “Temos muitos casos de sequelas. Problemas clínicos, nutricionais, neurológicos. Em geral, vemos muitas pessoas que apresentam fraqueza, perda de memória e problemas de atenção”, diz.
Segundo Lúcia, alguns pacientes precisam ficar internados na rede e outros podem voltar para casa e ir à unidade hospitalar para realizar algumas atividades. “É uma reabilitação que as pessoas podem levar para casa”, comenta. Como alerta, a médica pede que os pacientes recuperados se observem após a covid-19. “É importante avisar a população. Se observe e venha. Qualquer pessoa pode entrar em nosso site e requisitar atendimento (Veja mais em Como ser atendido)”, diz. Por fim, ela destaca que as atividades são lúdicas, mas com base científica. “Tudo o que fazemos é baseado na ciência. Além disso, estamos juntando dados e realizando pesquisas para aumentar o conhecimento em covid-19 e no tratamento de sequelas”, completa.
Auxílio
Da sigla em inglês para “Oxigenação por Membrana Extracorpórea”, ECMO é uma técnica também conhecida como “pulmão artificial”, justamente por substituir as funções do órgão quando esse está
muito comprometido.
Como ser atendido
O Programa de reabilitação pós-covid-19 acolhe pacientes com sequelas que envolvem alterações neurológicas, tais como:
» Acidente Vascular Encefálico
» Inflamação na medula espinhal
» Lesões do plexo braquial
» Fraqueza muscular com dificuldade no movimento
» Perda de força ou de sensibilidade nos membros superiores e inferiores
» Alterações do equilíbrio e da coordenação motora
» Alteração da memória, do planejamento e da iniciativa que levam à necessidade de ajuda de terceiros no cotidiano.
*Para marcar uma consulta, basta acessar o site www.sarah.br e selecionar a opção de solicitação de primeira consulta e seguir os passos orientados pelo sistema. A resposta costuma ser dada em um prazo de 15 dias.
Fonte: Correio Braziliense