Muitas mulheres, em especial na faixa dos 14 a 24 anos, ainda usam métodos alternativos para estancar o fluxo menstrual. Cerca de 11,3 milhões de brasileiras sofrem com a pobreza menstrual e muitas delas utilizam produtos inadequados como miolo de pão, meias, jornais, sacolas plásticas, roupas velhas, algodão, filtro de café e papel higiênico para estancar o fluxo.
Os dados foram apresentados, na terça-feira (14/09), durante apresentação da campanha “Deixa Fluir” da Sempre Livre, Carefree e o.b.. O evento reuniu mulheres para discutir o tema da dignidade menstrual. No mesmo dia, o Senado aprovou o projeto de lei que prevê a distribuição gratuita de absorventes para estudantes de baixa renda da rede pública e para mulheres em situação de rua ou de vulnerabilidade social em âmbito nacional.
Esses materiais alternativos colocam em risco a saúde da pessoa, ou por correr o risco de ficarem presos no canal vaginal ou propiciar problemas de saúde. Segundo a Sempre Livre, 73% das mulheres relataram problemas vaginais nos últimos 12 meses. Quase um terço relatou ter tido infecção urinária ou cistite, 24% relatou ter quadro de candidíase e 18% infecção vaginal por fungo ou bactéria.
A dignidade menstrual é um tema que ganha, cada vez mais, espaço nos debates sobre saúde pública. Isso porque na sociedade brasileira, mais de 50% da população menstrua, mas infelizmente isso não é naturalizado. Embora seja um processo normal de todo corpo feminino, existem muitos tabus que resultam em problemas até mesmo de saúde.
Segundo pesquisa realizada pela Sempre Livre, em parceria com os Institutos Kura e Mosaiclab, neste ano, 28% das mulheres de baixa renda são afetadas diretamente pela pobreza menstrual, o que representa aproximadamente 11,3 milhões de brasileiras.
Cerca de 40% das mulheres de baixa renda afetadas pela pobreza menstrual têm entre 14 e 24 anos. Além disso, 21% das entrevistadas relataram ter dificuldade para comprar produto para menstruação e 18% veem a menstruação como uma das maiores dificuldades em suas vidas, não tendo dinheiro para comprar absorventes.
A pobreza menstrual é a dificuldade de comprar produtos como absorventes descartáveis, a falta de acesso a saneamento básico, itens de higiene pessoal e está diretamente ligada à desigualdade social.
Dignidade menstrual aborda, para além da pobreza menstrual, a auto-estima e a saúde mental das pessoas que menstruam. Visto que, socialmente, a mulher se sente menos produtiva no período menstrual, e, muitas vezes, se vê em situações em que admitir que está menstruada provocará uma situação de constrangimento social.
Projetos em andamento
Existem projetos nos três níveis para distribuição gratuita de absorventes para mulheres. Foi aprovado, nesta terça-feira (15/09), no Senado, o projeto de lei que prevê a distribuição gratuita de absorventes em âmbito nacional.
O projeto, que ainda será sancionado, terá verba disponibilizada pelo Fundo Penitenciário Nacional ao Sistema Único de Saúde (SUS). A quantidade e forma de oferta ainda serão estabelecidos posteriormente.
Em Minas Gerais o governador Romeu Zema (Novo) sancionou, no dia 04 de setembro, o Projeto de Lei (PL) que obriga o fornecimento gratuito de absorventes higiênicos a mulheres em situação de vulnerabilidade social em escolas públicas, unidades de saúde, de acolhimento e em presídios do estado.
Em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil enviou para Câmara Municipal projeto de lei que institui a politica pública para garantir a oferta de absorventes higiênicos para todas as estudantes do ensino fundamental da rede pública. A prefeitura fará investimento mensal de R$ 239,9 mil para oferecer os absorventes a 40.815 meninas.
Deixa Fluir
Yasmine Sterea, CEO e diretora criativa do Free Free, instituto que trabalha pela liberdade de meninas e mulheres, declarou no evento que “Quando a gente não fala de menstruação, que a menstruação ainda é um tabu, a gente elimina grande parte da nossa vida, não só das pessoas que menstruam mas de toda a população, porque as pessoas se relacionam com pessoas que menstruam”.
No evento Deixa Fluir, foi apresentado também o projeto em parceria com a Unicef para transformar o cenário de pobreza menstrual no Brasil por meio da informação.
O projeto visa alcançar diretamente 6 mil jovens e adolescentes entre 13 e 24 anos, por meio da entrega de kits de higiene menstrual e de oficinas pedagógicas, podcasts folders, webinários, entre outras plataformas para criarem competências para a vida e se tornarem agentes transformadores dentro de suas realidades.
Rayanne Maximo, oficial da área de desenvolvimento e participação de adolescentes do Unicef diz que “vale lembrar que dentro desse nosso projeto não estamos pensando apenas o trabalho com meninas cis, mas também estamos pensando no trabalho com meninos. Sabemos a necessidade de trabalhar as masculinidades, para que a gente possa exercer um papel transformador na vida de cada adolescente”.
A criação da plataforma #TamoJuntas disponibiliza informações sobre dignidade menstrual e abriga o mapa da liberdade com o objetivo de facilitar a conexão entre quem quer ajudar ou doar itens de higiene menstrual e quem precisa.
Quebrando tabus
Em maio, as marcas Sempre Livre e Carefree lançaram a campanha #DeixaFluir, que abre seu comercial com a frase “Uma verdade: Vaginas são molhadas”. O vídeo traz diferentes mulheres com diversos objetos e referências à vulva e seus fluidos de forma artística e impactante.
A música que embala a quebra de barreiras é “Banho”, de Tulipa Ruiz e conhecida na voz de Elza Soares. Na campanha a interpretação foi feita por Bruna Black, e mostra empoderamento em um ritmo frenético e animado.
Fonte: Correio Braziliense