A oportunidade de tirar uma foto diante de uma explosão como as dos filmes de ação vem atraindo turistas a uma montanha do Japão.
A atração é uma aposta do empresário Hikaru Sayama, de 37 anos, que inaugurou o “turismo de experiência com explosão” na montanha Iwafune, em Tochigi, a cerca de 100 km de Tóquio.
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O local é considerado uma espécie de santuário dos tokusatsu, filmes ou séries live-action (com atores reais) com efeitos especiais.
Na atração oferecida por Sayama, o prato principal é a explosão. As pessoas escolhem a vestimenta e as poses para tirar fotos ou gravar vídeos enquanto ocorre o estrondo.
Este é um tipo de cena muito comum em seriados como Kamen Rider (exibido no Brasil em canal aberto nos anos 1990 e recentemente pelos serviços de streaming) e as séries Super Sentai (populares na Europa e nos Estados Unidos).
Para o público, os motivos do interesse por esse tipo de turismo são diversos. Alguns são fãs saudosos, e outros querem apenas ter uma imagem em que apareçam como heróis.
No caso de Sayama, o objetivo é outro: ele diz que deseja ajudar a revitalizar a economia regional. A iniciativa atende aos anseios do governo japonês, que acaba de retomar seu programa de incentivo ao turismo doméstico, após a paralisação quase total do setor durante o auge da pandemia de covid-19.
A província de Tochigi fica a cerca de 100 km ao norte de Tóquio, não é banhada pelo mar e, apesar de oferecer várias atrações turísticas, quase sempre aparece nas últimas colocações no ranking nacional das 47 províncias com mais atrativos.
Sayama está confiante no sucesso do projeto, que começou com dois eventos, em junho e em julho, e tiveram boa repercussão nas redes sociais e na mídia local. Novos eventos estão programados para 30 de outubro e 4 de dezembro.
Segundo Sayama, o local também é usado para gravação de filmes e seriados com cenas de explosão, por isso a frequência do “turismo de explosão” é limitada. A intenção do empresário é oferecer a atração uma vez por mês.
Nos eventos anteriores, foram realizados seis padrões de explosões, com cores e tamanhos diferentes.
Cada dia de evento tem três sessões: das 9h30 às 11h30, 12h às 14h, e das 14h30 às 16h30. A empresa aceita até dez grupos (cada um com no máximo três adultos e duas crianças) por sessão, com preço de 35 mil ienes por grupo (cerca de R$ 1,7 mil), com direito a três explosões.
A empresa não aluga roupas nem equipamentos. Os grupos devem se posicionar nos pontos indicados e se encarregar de montar seus próprios tripé e as câmeras.
As explosões são produzidas por profissionais de televisão e cinema.
“Em muitas cenas de explosão se usa computação gráfica. A experiência que oferecemos é real”, diz Sayama.
A tradutora Lily Noriko, de Tóquio, participou do evento anterior, pensando em produzir uma imagem impactante para divulgar seu trabalho.
Vestida de terninho, ela permaneceu concentrada na tela de seu notebook enquanto a chama amarela da explosão ganhava espaço na foto.
“O barulho não me assustou, mas a onda de calor que veio por trás foi incrível!”, relata.
Noriko pensou na cena para transmitir a mensagem de que é capaz de trabalhar em qualquer situação e circunstância.
“Mesmo enquanto estiver ocorrendo uma explosão, serei capaz de continuar executando o serviço de tradução simultânea”, exalta.
A foto foi para as redes sociais e recebeu muitos comentários positivos.
“Meus amigos estrangeiros viram e amaram.”
Assim como a cultura pop japonesa tem o seu nicho, Noriko acredita que essa experiência inusitada da explosão em um lugar simbólico para fãs de tokusatsu poderá convencer turistas de outras regiões a se deslocarem até Tochigi.
As pessoas escolhem como desejam aparecer na gravação e na foto, e podem ser heróis de sua história.
“Garantimos a explosão e a fumaça colorida”, completa Sayama.
De acordo com a pesquisa Tendências e Políticas para o Turismo 2020, realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o turismo em geral contribuiu diretamente em média para 4,4% do PIB, 6,9% do emprego e 21,5% das exportações de serviços nos países da OCDE.
No Japão, o turismo doméstico é um importante impulsionador da economia.
Segundo o Ministério da Terra, Infraestrutura, Transporte e Turismo do Japão, do total de de 27,9 trilhões de ienes de consumo registrado no mercado turístico japonês em 2019, quase 80% foram de turistas locais, sendo 17,2 milhões de ienes em viagens com pernoite e 4,8 trilhões de ienes em viagem de um dia.
Esses números ajudam a explicar os motivos para o governo implantar o programa de estímulo ao turismo doméstico Go To Travel em plena pandemia, fornecendo subsídio de até 50% para cobrir gastos com acomodação.
Do total do orçamento inicial de 2,7 trilhões de ienes (cerca de US$ 24 bilhões), pouco mais da metade havia sido aplicada até a suspensão temporária da campanha, em dezembro de 2020.
Com a situação pandêmica sob controle — diante da redução de casos de infecção e a imunização completa de quase 70% da população, o ministro da pasta de Turismo, Tetsuo Saito, tratou logo de desengavetar o programa, retomando a campanha em caráter experimental com apenas 38 rotas turísticas.
Após ajustes, ele pretende incluir mais opções a partir de novembro.
Todos querem atrair os holofotes para si. O turismo de experiência com explosão agradou Shunsuke Ajiki, 36, que decidiu oferecer a mesma atração mês em Tome (Miyagi), associando o evento à fama da cidade como a terra natal de Shotaro Ishinomori, o criador da série Kamen Rider.
“Eu cresci vendo o seriado. Assim como eu, os fãs vão adorar poder experimentar essa sensação de estar no meio de uma explosão, como nossos heróis”, diz.
Ajiki levou a esposa e os dois filhos pequenos, de 5 e 3 anos, para compartilharem a emoção durante o evento-teste realizado na montanha Iwafune.
Ele usou hakama (um tipo de vestimenta tradicional japonesa) e as crianças foram de quimono para comemorar o Shichi-Go-San (ritual dos 3, 5 e 7 anos de idade).
Com o estrondo, a caçula começou a chorar durante a foto, e Ajiki diz que teve seu momento de pai-herói: “sair das chamas com o filho ao colo também é uma grande emoção.”
Fonte: Correio Braziliense