

Raquel tem 18 anos e nunca conseguiu fazer nenhum exame pelo Sistema Único de Saúde. Também nunca conseguiu emitir documentos ou se inscrever em programas assistenciais do governo. Raquel vive em Fortaleza e não tem filiação oficial e, portanto, não tem sobrenomes. Por conta disso, ela não conseguiu se vacinar contra a Covid-19.
Aos 18 anos, Raquel não pode se vacinar contra a Covid-19 porque não tem documentos.
“Meu nome é Raquel, não tenho documento, não tenho sobrenome. É só Raquel“, conta ela em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo. Quando tinha três anos, Raquel foi deixada na porta da casa de sua mãe adotiva, Maria de Fátima Lima, que foi quem escolheu seu nome. Dona Maria de Fátima já tinha outros 14 filhos quando Raquel entrou em sua vida. O registro de nascimento foi feito, mas a guarda nunca foi concretizada. Não há nomes nos espaços para “pai” e “mãe” no documento da jovem. “Minha mãe escutou o barulho dela chorando e, quando abriu o portão, ela estava lá. Minha mãe agarrou ela e colocou ela para dentro“, conta Rosilene Costa Lima, irmã adotiva de Raquel e uma das filhas de dona Maria de Fátima. Foi ela quem “adotou” Raquel depois que a mãe morreu, mas, da mesma forma, o processo nunca foi oficializado.
A jovem ainda tem uma filha, Raquelly, de quatro anos. A criança não foi registrada pelo pai e também não tem sobrenomes em sua certidão de nascimento, apenas o nome único da mãe. Raquel teme que sua filha acabe passando pelas mesmas situações que ela. Raquelly não pode, por exemplo, ser matriculada oficialmente em uma escola, assim como Raquel nunca foi. Se um dia precisar de seu histórico escolar, ele não estará disponível porque, oficialmente, não existe. “Eu não quero que a minha filha passe tudo o que eu passei. Eu quero que ela tenha todos os documentos, sobrenome e que ela seja cidadã e tenha um futuro melhor“, pediu.
A esperança para a resolução do caso, que é o mesmo de cerca de três milhões de brasileiros segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está na adoção. Mesmo sendo maior de 18 anos, Raquel pode ser adotada por Rosilene, sua irmã, e Elisângela, mulher de Rosilene. A família está sendo amparada pela Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará. Quando a situação de Raquel se regularizar, será a vez de fazer o mesmo para a pequena Raquelly.
Fonte: Em off