A atriz Taís Araújo trouxe relatos surpreendentes sobre as gravações da novela “Xica da Silva”, na qual viveu a personagem principal, na extinta TV Manchete, em 1997. A artista revelou ter vivido momentos de conflito com o autor, Walcyr Carrasco, ao se negar a interpretar uma cena de sexo anal durante a trama.Taís tinha 17 anos quando começou o trabalho, e passou a protagonizar cenas de sexo e nudez assim que alcançou a maioridade, durante as gravações da novela. O relato se deu durante entrevista com a atriz Zezé Motta, que viveu Xica da Silva no cinema, no programa Roda Viva, no qual Taís participou como parte da bancada de entrevistadores.“Xica foi retratada muitas vezes pelo lado erótico. Quando eu fui fazer [a personagem], no momento em que me neguei a fazer uma cena de sexo anal, Walter Avancini e Walcyr Carrasco foram publicamente dizendo que eu estava transformando a Xica da Silva numa Maria Chiquinha”, revelou Taís, em relato que espantou Zezé Motta. A história veio à tona por conta da trajetória das duas atrizes se cruzarem justamente por terem interpretado a mulher negra e escravizada que foi alforriada e casou-se com um rico contratador de diamantes, ganhando destaque nos altos círculos sociais do final do século XVIII no Brasil escravocrata de então.Procurado pela coluna Na Telinha, do UOL, o autor Walcyr Carrasco negou o ocorrido, lembrando que, por ter escrito a novela sob o pseudônimo de Adamo Angel, não teve contato direto com os atores que, segundo Carrasco, também não sabiam quem ele era. Só no final da novela os conheci em uma única passagem pelo estúdio. Nunca soube sequer dessa cena. Eu só escrevia. Mas acho que essa cena nunca existiu, eu certamente não escrevi”, respondeu, para a coluna. O comentário público pelo autor e diretor a que Taís se refere no trecho da entrevista, porém, de fato foi publicada pela Folha de São Paulo, em 26 de maio de 1997.A matéria da época afirma que Taís poderia deixar de ser funcionária da Manchete, por ter contrariado o desejo da emissora, de retratar a personagem como “uma escrava que usou sua sensualidade para, no século 17, em Minas Gerais, tornar-se ‘rainha’” – e registra as críticas tanto do autor e do diretor.“Ela fez exatamente aquilo que eu não queria. Se negou a fazer uma Xica da Silva sensual, porque queria se mostrar para a Globo. Preferiu ser uma ‘Maria Chiquinha’ a ser uma Xica da Silva, feminista e revolucionária. Ela tem talento, mas na Globo vai ser coadjuvante”, afirma Avancini, na matéria publicada há 24 anos.No texto, Carrasco afirma que a atriz não teria sido “correta” com ele, e que seria ingênuo pensar que a trajetória de Xica da Silva não passava “pela cama”. Taís responde, na matéria, que concordava com a sensualidade da personagem, mas que achava que ela foi “acima de tudo, uma mulher de atitude, inteligente”, e que a cena que se recusou a gravar iria “manchar a imagem de Xica”.Fonte: Hypeness