O debate científico e público acerca da covid-19 se voltou a nova cepa do coronavírus denominada ômicron, detectada pela primeira vez na África do Sul. A nova variante do vírus ainda tem efeitos desconhecidos, mas já se sabe que ela é muito mais transmissível do que a delta e ela preocupa autoridades de saúde do mundo todo por sua combinação de variações desconhecidas.
O que é a variante ômicron?
A ômicron foi identificada pela primeira vez pelo governo da África do Sul e as notícias sobre a variante rapidamente se espalharam por conta de sua intensa rapidez para praticamente exterminar a delta do país. Segundo os especialistas, ela tem 50 mutações diferentes do coronavírus original, algo nunca antes visto.
Até agora, não foram registradas mortes causadas pela variante ômicron da covid-19
Muitas dessas mutações ocorreram na proteína spike do vírus, aquela utilizada para se “agarrar” ao corpo humano e, por isso, diversos cientistas ponderam que a nova cepa pode escapar da imunidade de algumas vacinas. Além disso, ela parece ser mais transmissível. Por conta destes fatores, a OMS declarou que a ômicron é uma VOC ou “variante de preocupação”. “Dadas as mutações que poderiam conferir a capacidade de escapar de uma resposta imune, e dar-lhe uma vantagem em termos de transmissibilidade, a probabilidade de que a ômicron se propague pelo mundo é elevada”, disse a Organização Mundial da Saúde, em nota.
Como poucos casos foram registrados, ainda é difícil saber se a ômicron é realmente mais transmissível e se ela realmente escapa às vacinas da covid-19. Nas próximas semanas esses dados ficarão mais claros e irão ditar o caminho que os países realmente devem tomar para conter a nova doença. Segundo a OMS, nenhuma morte foi registrada pela variante ômicron até o momento e não se sabe se ela apresenta sintomas diferentes das outras cepas.
O mundo reage à ômicron
Após o anúncio do governo sul-africano sobre a nova variante, diversos países do mundo – inclusive o Brasil – fecharam suas fronteiras com a nação mais desenvolvida da África, que criticou a decisão. “Esta última vaga de proibições de viagens equivale a punir a África do Sul por ter sequenciado o genoma e pela capacidade de detetar novas variantes mais rapidamente. A excelência científica deve ser aplaudida, não punida”, disse o governo sul-africano em um comunicado emitido dois dias depois de ter anunciado a descoberta.
No Brasil, o prefeito de Salvador (BA), Bruno Reis (DEM), cancelou o Reveillón por conta da situação global da pandemia, em referência à ômicron. “Os números de óbitos e internações só fazem cair na nossa cidade. Só que, em um cenário de incertezas e dúvidas, não há como realizar Festival Virada, que é um evento para mais de 250 mil pessoas”, explicou o prefeito. A capital baiana se soma a Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), Palmas (TO) e Marabá (PA), que também cancelaram as festividades de ano novo. – Carnaval 2022: as cidades de SP que já cancelaram a folia do ano que vem À nível federal, a questão é outra. O Brasil proibiu voos vindos de seis países do continente africano, mas não exigirá testes de covid-19 ou comprovantes de vacinação de pessoas vindas do estrangeiro, mesmo com a confirmação de que a nova cepa já circula ao redor de todo o mundo, inclusive no continente americano. Ao invés de reforçar medidas como quarentena com testagem PCR e exigência de vacinação, os países decidiram estigmatizar e isolar os países da parte sul do continente africano como párias sanitários por conta da nova cepa.
Para os cientistas, o surgimento da variante na parte sul do continente africano está relacionado à falta de vacinação em todo o continente. A África do Sul tem apenas 29% da população completamente vacinada e, mesmo assim, ainda é um dos países com maior taxa de imunização no continente.
Desigualdade na distribuição de vacinas é tema urgente
Enquanto a União Europeia e os EUA debatem uma quarta dose de imunizantes para tentar proteger a população vacinada do forte movimento anti-vacina – que certamente é um problema caso a ômicron se demonstre mais transmissível e letal -, há países na África e na América Latina onde menos de 1% da população foi vacinada, como Haiti, República Democrática do Congo e Chade.
“A delta está circulando no mundo inteiro e é responsável pela imensa maioria dos caso de pessoas não vacinadas. Com o vírus circulando, ele desenvolve outras mutações, que leva a outras variantes. É extremamente importante que se tome a vacina. As vacinas protegem contra casos graves e mortes. A indústria farmacêutica já está trabalhando com as mutações e, se tiver necessidade de fazer ajuste, ele será feito“, explica a vice-diretora geral da OMS Mariângela Simão ao G1.
Fonte: Hypeness