Com o avanço de novas variantes do coronavírus, ampliar a disponibilidade da vacina contra Covid-19 para outras faixas etárias é fundamental. Depois de adultos e adolescentes, chegou a vez de imunizar as crianças para conter a disseminação da doença. Por isso, diversos países estão aprovando o uso de doses reduzidas da Pfizer/BioNTech para este público.
A médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), lembra que a Covid-19 é classificada como uma das 10 principais causas de morte para crianças de 5 a 11 anos, segundo o Ministério da Saúde.
De acordo com a especialista, a taxa de incidência de síndrome respiratória aguda grave causada pelo coronavírus em crianças de 1 a 5 anos é de 30 casos para cada 100 mil, e a de óbitos relacionados à infecção é de 1,54 a cada 100 mil.
“Além disso, as crianças também têm a capacidade de transmitir o vírus, principalmente diante de uma nova variante como a Ômicron, que está chegando ao país”, comenta.
A pandemia de Covid gera grandes impactos na vida diária dos pequenos, que não podem frequentar o ambiente escolar normalmente, impactando o desenvolvimento social e a educação formal. “Não podemos deixar que isso aconteça no Brasil. Não podemos pensar em fechar escolas novamente. É necessário que as crianças sejam vacinadas também”, adverte Ballalai.
Segurança da vacina
Durante a pesquisa clínica da vacina da Pfizer/BioNTech, que foi licenciada para o uso em crianças entre 5 e 11 anos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os dados sobre a segurança do imunizante se mostraram favoráveis. Segundo a vice-presidente da SBIm, dados internacionais atestam a eficácia e a segurança do imunizante para esta faixa etária.
“Nos Estados Unidos, onde mais de oito milhões de doses já foram aplicadas em crianças, foram cerca de cinco mil relatos de eventos adversos, sendo que 97% deles eram leves e apenas 5% das crianças deixaram de ir para a escola por se sentirem mal depois da vacina”, diz Ballalai.
De acordo com o órgão americano FDA, agência equivalente à Anvisa, os estudos clínicos apresentados pelos desenvolvedores do imunizante mostraram eficácia de 90,7% na prevenção da Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos. Os dados são baseados em um estudo que envolveu aproximadamente 4.600 crianças desta faixa etária.
Alergias e efeitos adversos
Atualmente, a disponibilidade de dados sobre anafilaxia, alergia grave causada por medicamentos e vacinas, mostra que o coronavírus é responsável por mais casos do quadro do que os imunizantes.
“Quando tivemos os primeiros vacinados em 2020, a gente entendia que existia um risco. Hoje, a chance de anafilaxia com a vacina da Pfizer/BioNTech é semelhante à de outras vacinas. Então, não é um risco alto. Não é algo que deva impedir uma família de vacinar os seus filhos”, explica a vice-presidente da SBIm.
Reações graves na vacinação de crianças de 5 a 11 anos são raríssimas, afirmou o Centro de Controle de Doenças (CDC), órgão de saúde dos EUA, na última quinta-feira (30/12). De acordo com a entidade, apenas 100 crianças tiveram efeitos que podem ser descritos como graves, e febre (29%) e vômitos (21%) foram os mais comuns.
Entre as mais de oito milhões de doses aplicadas, dois relatos de óbito ocorreram e estão sob revisão. Ambos eram de meninas com outras doenças e que tinham saúde frágil antes da imunização. “Nenhum dos dados sugeriu uma associação causal entre morte e vacinação”, afirmou o órgão.
A imunologista Ballalai ressalta: “É consenso em muitos países que já adotaram a vacinação, inclusive no Brasil, que é sim um benefício vacinar as crianças e que essa imunização tem uma relação de risco-benefício muito favorável”.
Miocardite
A miocardite é uma inflamação do músculo do coração que pode surgir como uma complicação durante diferentes tipos de infecção no organismo, causando sintomas como dor no peito, falta de ar ou tonturas.
Estudos científicos já mostraram que a miocardite é um efeito colateral considerado raríssimo entre as pessoas vacinadas. Além disso, a chance de a inflamação acontecer é muito maior por conta da infecção com o coronavírus do que pela aplicação do imunizante.
“A miocardite, que a gente sabe ser um pouco mais comum entre adolescentes, parece mais rara em crianças de 5 a 11 anos”, afirma a médica. Ela comenta que, nas oito milhões de doses aplicadas nos EUA, foram apenas 11 casos de miocardite relatados. Desse número, oito crianças já se recuperaram e não houve nenhum óbito relacionado a eventos cardiológicos em crianças por conta da vacina.
Os especialistas consideram que o risco de desenvolver a condição nesta população é muito baixo. “Muito inferior à incidência de miocardite causada pela Covid-19, por exemplo. Não houve nenhum caso relatado de mortes ou sequelas da inflamação no coração entre os adolescentes vacinados. Com as doses aplicadas em crianças nos EUA, também não”, destaca Ballalai.
Como saber se o meu filho vai tomar a vacina correta?
A identificação correta de uma vacina para crianças de 5 a 11 anos é uma obrigação das autoridades públicas, que deve garantir ainda um treinamento eficiente para toda a equipe responsável.
A especialista explica que o rótulo não é igual ao das doses de adultos para diminuir o risco de erros humanos. “A vacina infantil vem com a cor laranja, para diferenciar daquela que é usada entre maiores de 12 anos de idade”, conta.
Na quinta-feira (30/12), a Anvisa listou uma série de recomendações para a vacinação de crianças contra a Covid-19. Entre elas, está que a imunização da nova faixa etária seja iniciada só depois do treinamento completo das equipes de saúde que farão a aplicação.
“A grande maioria dos eventos adversos pós-vacinação é decorrente da administração do produto errado à faixa etária, da dose inadequada e da preparação errônea do produto”, explicou a agência.
Outra recomendação é que seja mostrado ao responsável que se trata da vacina contra a Covid-19, frasco na cor laranja, cuja dose de 0,2 ml, contendo 10 mcg da vacina da Pfizer, específica para crianças entre 5 a 11 anos. A seringa a ser utilizada (1 ml) e o volume a ser aplicado (0,2 ml) também devem ser apresentados antes da aplicação.
Fonte: Metrópoles