

O tenor Jean William foi vítima de uma abordagem policial em uma balsa no litoral paulista. O cantor lírico, que é negro, foi abordado por policiais militares quando fazia a travessia de barco entre Santos e o Guarujá na última quinta-feira (27).
Conforme a coluna de Mônica Bergamo na Folha de São Paulo, Jean estava no banco de motorista de seu carro da marca Jipe, considerada uma montadora de carros de grife no Brasil. Enquanto aguardava para desembarcar no Guarujá, o cantor disse que um policial apontou uma arma na direção de seu rosto e ordenou que ele saísse do carro.
Tenor foi vítima de abordagem sem motivo em balsa entre Santos e Guarujá
Desorientado, William afirmou que não estava compreendendo o porquê de uma ação tão brusca e violenta naquele contexto. “Que risco eu estava representando de dentro do meu carro, parado numa balsa, olhando pro mar, para que ele apontasse a arma daquela forma? Eu não entendo”, afirmou o cantor à colunista da Folha.
Jean afirma que foi tratado como bandido. Os policias inquiriram o cantor por suspeitar que ele carregava drogas em seu carro e perguntaram se ele tinha antecedentes criminais. – Pesquisa relaciona truculência policial e raça: 85% das pessoas abordadas são negras O tenor afirmou que o caso foi humilhante e indica que a abordagem foi motiva por questões raciais. “Não estou questionando o trabalho da polícia, mas a abordagem que eu sofri e o histórico [de outros casos semelhantes]. É uma humilhação. O fato de você ser quem você é não é suficiente para ter um carro daquele padrão, por causa da cor da sua pele”, segue. “Por que um indivíduo preto não pode dirigir um carro bom?”, questiona.
O caso foi levado à Ouvidoria da Polícia Militar e a Corregedoria pede uma denúncia formal para apuração da situação. “A Corregedoria da instituição está a disposição da vítima para formalização da denúncia, junto à sede do Comando de Policiamento do Interior-6 (CPI-6), localizado na Avenida Coronel Joaquim Montenegro, 282, bairro Aparecida, em Santos”, diz a PM em nota.
Redução de mortes com gravações
Nesta semana, foi anunciado que a letalidade da Polícia Militar foi reduzida no estado de São Paulo. De acordo com os dados divulgados, os batalhões da PM que foram equipados com as câmeras grava-tudo, que registram todo o turno dos policiais, mataram 85% a menos em 2021 em comparação com o ano anterior. Antes, as câmeras eram acionadas por policiais conforme o desejo do agente de segurança. Agora, todas as ações são registradas. Nesse ano, a corregedoria da PM inclusive conseguiu identificar, graças às câmeras, o caso do assassinato de um jovem negro desarmado e rendido pela força de segurança paulista. “O mais importante é que mudamos o sistema. E as câmeras estarão gravando tudo. Esse novo sistema permite a gravação involuntária. Ou seja, a câmera começa a gravar a partir do momento que o policial ou a policial a coloca no uniforme e sai para trabalhar”, explica o coronel Robson Cabanas Duque, coordenador do Programa Olho Vivo, ao G1. A Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (ROTA), considerada uma das divisões mais violentas de toda a PM paulista, matou apenas quatro pessoas nos últimos sete meses de 2021, em comparação com 36 assassinatos registrados no mesmo período no ano de 2020.
Fonte: Hypeness