O uso das plantas medicinais para curar e prevenir doenças é um conhecimento de povos antigos passado de geração em geração. Pensando em dar continuidade para esses saberes, a terapeuta homeopata e agricultora Josefa Ataídes, 60 anos, escreveu o livro Farmácia caseira, com receitas de chás terapêuticos, pomadas, xaropes, explicações sobre o cultivo, a manipulação e a utilização das plantas. Ensinamentos que foram passados por outras mulheres da família de dona Josefa, como é mais conhecida. Ao longo dos anos, ela se aprimorou por meio de estudos científicos, pesquisas e cursos, se tornando educadora popular em saúde.A ideia do livro surgiu após Josefa dar oficinas com mulheres do curso de viveiricultura, no Instituto Federal de Brasília (IFB). Os professores organizaram o material escrito para o lançamento em 31 de janeiro. Para a terapeuta, as plantas têm como intuito promover saúde. “Quando penso em plantas medicinais, como hortelã, tomilho, alecrim, que são chás mais básicos e cultiváveis, sei que vão fazer parte da minha alimentação diária. Por exemplo, eu não preciso tossir para tomar um chá de tomilho. Quando eu como no meu dia a dia, fortaleço meu corpo para que não fique doente”, explica a homeopata.Orgulhosa das origens, dona Josefa se define como uma mulher da terra e, por isso, escreveu o livro com linguagem simples. A obra está disponível gratuitamente na internet. “É para que todos possam baixar e fazer bom uso, e comecem a cuidar da saúde de forma preventiva, de forma que faça com que as pessoas entendam que podemos viver e envelhecer de forma saudável”, acrescenta a agricultora.Criada no interior do Tocantins e levando uma vida simples, dona Josefa cresceu utilizando as ervas para melhorar a saúde. “Vim conhecer a medicina tradicional entre a adolescência e a vida adulta. Era uma prática comum cuidar da saúde com plantas e comida fresca. Os males eram sempre tratados com chá ou preparação caseira de alguma pomada. Algo simples, primitivo”, detalha a agricultora.Moradora de São Sebastião, a terapeuta lembra que teve problemas de saúde logo que chegou no Distrito Federal e quis retomar a vida mais natural que tinha. “Comecei a cultivar um quintal com ervas, e a saúde melhorou muito. Foi quando fiz esse resgate de encontro comigo mesma e faço do meu quintal um Tocantins com infinitas possibilidades”, ressalta dona Josefa.A pesquisadora destaca que a abrangência do uso de ervas inclui o que é colocado no prato, na pele, no cabelo e até nas unhas. “É um conjunto de ações que vai promover a saúde. As plantas medicinais, nesse momento que vivemos, passaram a ter uma grande aceitação. Antes, achávamos que o industrializado era maravilhoso”, avalia dona Josefa sobre o aumento da procura de produtos naturais, após a chegada da pandemia em que muitas pessoas buscaram cuidar da saúde.No entanto, dona Josefa ressalta que o remédio comprado na farmácia não é um vilão. “O problema está no uso indiscriminado e descontrolado. E os alimentos fitoterápicos funcionam da mesma forma. Saber usar e ter orientação é fundamental. Sendo assim, consigo cuidar da minha saúde, envelhecer com qualidade de vida”, argumenta a homeopata.O conselho de Josefa é simples: “quem tiver condição e um espaço adequado, plante. Cuidar de uma hortinha em casa já é um processo de cura. Colher aquilo que a gente produziu é algo que nos dá confiança”. Ela enfatiza que, para aqueles que não podem cultivar, devem procurar produtores que sejam confiáveis. “O livro ensina a ter o básico da sua farmácia caseira”, adianta.Direto da natureza
A diarista Lindalva Fragoso, 54 anos, conta que tinha conhecimento das ervas medicinais por meio da mãe, mas, com o passar do tempo, e sem fazer uso das receitas de família, passou a ter algumas doenças e tomar medicamentos controlados. “Ela fazia chás e remédios caseiros na infância. Eu tive muito problema de gastrite, artrite reumatoide e artrose na coluna. Depois de um tempo, resolvi substituir os remédios de farmácia por plantas medicinais”, recorda-se a moradora de São Sebastião e amiga da dona Josefa. “Eu controlei tudo com plantas medicinais e com a alimentação na recuperação dos problemas”, completa a diarista.Babá, Raimunda Silva, 39, não usa medicamentos industrializados há alguns anos. “Eu uso muitos xaropes naturais para a gripe e chás para dor de cólica. Cultivo alecrim e hortelã, entre outras plantas”, enumera. Integrante do Espaço Terapêutico Chá da Terra, comandado pela dona Josefa, a Raimunda passou a ter mais contato com a medicina natural. Nascida no Maranhão, a moradora de São Sebastião conhece técnicas que aprendeu com a mãe. “Há 10 anos, eu conheci a dona Josefa por meio de uns movimentos sociais, e a gente passou a se reunir para fazer chá, tintura, xaropes”, comenta Raimunda.Professora do curso de vivericultura do IFB, no campus São Sebastião, Vera Bueno, 47, se aprofundou no uso das ervas medicinais e da fitoterapia com a dona Josefa. “Eu fiquei muito motivada com o livro. Vejo a necessidade de utilizar esse material que ela produziu para promover esse tipo de ação de saúde”, defende Vera. “Os benefícios são inquestionáveis. Desde aquele chá que você toma para relaxar e ter uma boa-noite de sono até outras aplicações que a dona Josefa propõe na obra”, afirma a professora, que alerta para o uso descontrolado das plantas.A dose é fundamental
Apesar dos diversos benefícios das plantas medicinais, os usuários devem ter atenção, principalmente, se recorrerem a terceiros para comprar os produtos. “É uma questão frágil em relação à segurança da planta. Porque muitas delas, quando estão secas, mudam a sua coloração e, quando estão em pó, podem ser adulteradas e aquela espécie que tem a referência terapêutica não é a mesma que está sendo comercializada”, alerta a professora da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em fitoterapia Paula Melo Martins. “Essas plantas são adquiridas por extrativismo e devem ser colhidas em regiões que estão longe de estradas e de lugares onde você tem lixo. Uma série de parâmetros de qualidade que devem ser respeitados”, reitera Paula.A professora reforça que todo tratamento deve ter acompanhamento de uma profissional de saúde. “O paciente usa o medicamento alopático e ainda toma o chá para o mesmo problema, mas não avisa ao médico. Isso se torna um risco. Uma coisa que eu sempre digo é o seguinte: ‘não é porque é natural que não faz mal’. É muito importante que as pessoas tenham essa ideia de uso racional”, explica a professora.A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é comprometida com a questão da segurança e da qualidade dos produtos fitoterápicos. “De uns 15 anos para cá, a agência vem reconhecendo o uso tradicional de uma série de plantas”, diz Paula. “Uma outra forma que pode orientar o uso seguro é que, hoje, nós temos nas farmácias vários fitoterápicos elaborados pela indústria farmacêutica com descrição de segurança e eficácia baseada em evidências científicas. Claro que o uso popular e tradicional de plantas medicinais tem o seu valor”, acrescenta a especialista.Para ter em casa:
Capim-limão ou erva-cidreira: planta calmante e digestivaAlecrim: ajuda no mau hálito, traz uma clareza mental e disposição corporal, é chamada de ‘planta dos estudantes’Babosa: planta excelente para casos de queimadura e problemas de peleMenta/Hortelã: planta com propriedades digestivas, bom vermífugo e auxilia com dores de barrigaGuaco/Erva de Bruxa: planta respiratória, boa para tosse, bronquite e irritação na gargantaBoldo: planta digestiva, boa para o fígadoTomilho e Sálvia: plantas que facilitam a digestão e vão contribuir para uma flora intestinal sadiaGengibre e cúrcuma: plantas anti-inflamatórias, que tratam problemas respiratórios. A cúrcuma é altamente antioxidanteFaça o download
Para adquirir o livro Farmácia caseira, basta acessar o site https://www.ifb.edu.br/saosebastiao/29481-editora-ifb-publica-a-obra-farmacia-caseira.A edição completa está disponível em arquivo formato PDF.Fonte: Correio Braziliense