Piauiense de nascimento, há 52 anos o compositor e multi-instrumentista Riva Santana adotou Brasília como terra natal. Em suas experiências na capital do país, ele testemunhou o muito e o pouco em diferentes realidades pelas regiões administrativas do Distrito Federal e vislumbrou o ensino da música como uma forma de enfrentar as desigualdades sociais e transformar realidades. Dessa motivação surgiu o projeto Arte para a Cidadania, que chega à sétima edição e é recebido, a partir de abril, na Casa do Cantador, para ensinar, gratuitamente, durante seis meses, introdução musical para crianças — a partir dos 10 anos —, jovens e adultos que se matricularem.
A iniciativa existe desde 2008 e não é a primeira vez que ocorre na cidade. Orgulhoso, Riva conta que o trabalho venceu um edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de Cultura do Distrito Federal e tem objetivo de ampliar as perspectivas musicais dos participantes e, quem sabe, capturar novos talentos que possam trilhar o caminho da música.
Com um histórico como letrista, produtor musical, participante de eventos culturais e festivais no DF, assim como ganhador de premiações ao longo das últimas décadas, ele segue há 12 anos como educador musical. Além da teoria, os alunos têm contato com os instrumentos, como violão e teclado. A proposta foi implementada, inicialmente, em escolas. Em 2009, 2012, 2014 e 2016, ocorreu em colégios do ensino fundamental.
Em anos de trabalho, Riva conhece o perfil de quem chega ao curso: alunos da rede pública, dos ensinos fundamental e médio. Apesar do recorte, ele faz questão de destacar que a oportunidade é para todas as gerações, inclusive a terceira idade. O projeto contempla da capacitação ao acompanhamento de qualquer música de gênero popular. Segundo Riva, é o que os alunos mais gostam de aprender a tocar.
“Enfatizamos que o curso é básico, elementar. Então, tem três professores, eu e mais dois que damos aula no turno matutino e vespertino. Ele é popular, ensina os jovens a tocar violão e teclado”, destaca Riva Santana.
Encantamento
Foi o violão que conquistou Johnny Hiller, 26 anos. Após participar de uma das edições do Arte para a Cidadania, ele escolheu a música como parte importante de sua vida pessoal e profissional. Em 2014, aos 18 anos, ele foi um dos inscritos. “Sempre gostei de música, comecei a tocar na igreja depois do projeto. Ela me influencia até hoje, porque agora toco em uma banda”, diz.
O músico também dá aulas e afirma que, depois do curso, partiu em busca de qualificação e melhorias. O investimento trouxe resultados e a atividade como professor é parte de sua renda, além de ter possibilitado contato com outras atividades ligadas à cultura. “Dali, eu trilhei vários caminhos”, afirma o jovem que também atua como locutor e segue investindo em música. “Em casa tenho mais de 10 tipos de instrumentos”, admite reconhecendo a importância do passo inicial.
Um caminho que lembra o percorrido por um dos parceiros do projeto, o músico e educador Diró Nolasco, 62 anos. Ele começou a trajetória musical na adolescência e, hoje, auxilia novos talentos. “Sou violonista, compositor, arranjador, e cantor. Comecei a aprender violão aos 15 anos de idade, isso em 1975”, afirma.
Em 1979, ele passou a participar de festivais de música e não parou mais. As aulas de violão, ele começou a ministrar em 1987, na biblioteca do Lions Clube, em Sobradinho. Depois dessa experiência, o artista afirma que não parou mais. “Dava aulas particulares nas casas das pessoas e procurava espaços como artista”, diz.
Ele acredita que iniciativas como a de Riva atendem a carência pelo ensino gratuito de música para um público que não teria condições de pagar pelas aulas. Presente desde a terceira edição do projeto, Diró relata que o dia a dia com os alunos é uma relação de doação e incentivo. O trabalho cria pontes, e nas aulas de música é possível explorar o lado psicopedagógico, facilitando a aprendizagem. “O processo de ensino é algo muito envolvente e motivador quando se faz o que gosta. Mas me enriquece imensamente. A gente aprende o tempo todo também”, finaliza.
Curso
Mesmo que nem todos sigam na música, Riva salienta que é importante, como formação humana, ter um contato mais direto com a música. “Além de capacitar, o curso, ainda que básico, dá uma formação inicial para quem nunca mais terá contato com esse tipo de conteúdo”, complementa.
O curso começa em 4 de abril e tem quase todas as 120 vagas preenchidas. O projeto é dividido em 12 turmas, e o ensino é coletivo, com cada sala formada por até 10 participantes. A duração estimada é de seis meses, e as duas aulas previstas ocorrem semanalmente.
Fonte: Correio Braziliense