O roteirista e diretor Rafael Spaca, que produziu o documentário “Trapalhadas Sem Fim”, desistiu de lançar a produção, que consumiu três anos de sua vida para ficar pronto. A produção mostra a relação conturbada entre os humoristas Dedé Santana, Mussum e Zacarias e, principalmente, os podres de Renato Aragão, enquanto o quarteto formava o grupo “Os Trapalhões”, sucesso em todo o Brasil.Em entrevista à repórter Ana Cora Lima, do site F5, da Folha de São Paulo, o diretor afirmou que apresentou o documentário a “praticamente todas” as plataformas de streaming que operam no Brasil, mas nenhuma se interessou em comprar o material. Orçada em R$ 2 milhões, a produção possuiu cinco episódios e reúne pesquisas e entrevistas sobre o grupo de humor.Chateado com a falta de interesse por parte das plataformas, Rafael Spaca abriu o coração. “Faltou coragem para levar ao ar um documentário independente e sem rabo preso”, disse. “Foi um choque de realidade. O Brasil é o país da chapa-branca e prefere produzir um documentário como esse do Neymar [Neymar – O Caos Perfeito, da Netflix], que é pura bajulação, do que exibir coisas mais provocativas”, ressaltou.Ainda de acordo com o diretor, o documentário revela momentos tensos nos bastidores das gravações, como discussões e desavenças por dinheiro entre integrantes de “Os Trapalhões”. “Que o Renato ganhava absurdamente mais que os outros, isso é um fato. Outro fato é que em um momento da carreira do quarteto, ele ‘puxou o tapete’ do Dedé, do Mussum e do Zacarias”, afirmou.“Especialista” quando o assunto é o grupo de humor, Rafael Spaca já escreveu dois livros sobre o quarteto: “As HQs dos Trapalhões” e “O Cinema dos Trapalhões”. O documentário mostra a trajetória do grupo desde o seu início, com sua formação original (Renato Aragão, Wanderley Cardoso, Ivon Cury e Ted Boy Marino), ainda nos anos 1960, até as gravações de “Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood”, lançado em 2017.Apesar do documentário mostrar os atritos dos quatro integrantes, o diretor afirmou na entrevista que não tentou dar uma imagem de “vilão” a Renato Aragão. “Eu deixaria para o público fazer esse juízo”, afirmou ele. Ainda segundo ele, todas as informações que existem no documentário sobre o intérprete de Didi Mocó são “jornalísticas”. “Não tem essa história de que todo documentário precisa ser uma ode ao objeto de pesquisa”.Em 2019, Renato Aragão e a filha, Lilian Aragão, se recusaram a falar sobre o documentário e pareceram não estar satisfeitos com o projeto. Durante o Meus Prêmios Nick, promovido pelo canal de televisão Nickelodeon, em São Paulo, Renato Aragão foi perguntado sobre a série. “Estou tão feliz neste momento que não quero pensar nisso”, disse o humorista. Em seguida, Lilian Aragão complementou. “Só o advogado que fala”.No mesmo ano, a assessoria de imprensa de Renato Aragão afirmou ao UOL que devido a “obrigações contratuais, [Aragão] não irá se manifestar sobre outros trabalhos, não autorizados, que tratem de sua vida”. O intérprete de Didi Mocó não quis dar entrevista ao diretor do documentário. Dedé, em solidariedade ao amigo, também não é a favor da produção e não falou com Rafael Spaca.Fonte: Em off