Goiânia – A dona de casa Jacqueline Ferreira da Silva, de 44 anos, ganhou um novo sobrenome em seu documento de identidade. É o sobrenome Vieira, herdado do pai dela, o agrimensor Edvaldo Vieira, de 65, que ela só descobriu a existência aos 38 anos. Antes disso, ela não tinha o reconhecimento de um genitor.Jacqueline ganhou o “nome do pai” e o novo sobrenome em uma ação promovida pela Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) na manhã do dia 12 de março deste ano. No entanto, esse dia se concretizou após uma longa história de buscas, sofrimento e um grave diagnóstico na família.“Minha mãe não revelou para meu pai verdadeiro que estava grávida. Ele se mudou de Goiânia sem saber que tinha uma filha. Então, eu cresci sem assistência paterna, ouvindo a história que meu pai seria outra pessoa, que não teria me assumido”, contou a dona de casa ao Metrópoles.Vida difícilNão ter o nome do pai na certidão de nascimento e no documento de identidade foi algo que marcou a vida de Jacqueline.“Eu cresci ouvindo, tanto na infância e adolescência, como na fase adulta, ‘Você não tem pai não? Por que você não tem pai? Quem é seu pai?’. Então é uma situação muito difícil. Eu tentava não absorver aquilo para mim, porque os problemas eram tantos… O pai faz falta em tudo: afetivo, educação e principalmente alimentação”, resumiu a dona de casa.Na adolescência, Jacqueline começou a trabalhar como empregada doméstica e babá, mas recebia muito pouco, o que a impossibilitava de realizar um sonho: concluir os estudos. Por causa disso, ela resolveu procurar o homem que a mãe dizia ser seu pai.“Quando eu completei 15 anos, fui atrás dessa pessoa que achava que era meu pai. Minha mãe não tinha condições nenhuma. Eu queria estudar, que ele me desse material escolar. Ele falou por telefone que não era meu pai, que era para eu perguntar à minha mãe. Eu fiquei tão chateada, mas continuei achando que ele era meu pai”.Doença e descoberta
Jacqueline seguiu a vida sem pai, constituiu família e teve dois filhos. Nesse tempo, a pessoa que ela achava ser o pai morreu. Acontece que uma reviravolta em sua vida fez com que ela precisasse retomar o contato com a suposta família paterna.Um dos filhos da dona de casa começou a ter problemas intestinais muito graves, que os médicos demoraram para diagnosticar. O tratamento da criança ia ser feito em São Paulo e o último diagnóstico tinha sido de suspeita de erro inato do metabolismo, problema de saúde raríssimo.“Precisava saber se era hereditário ou se ele adquiriu essa doença. Eu falei para minha mãe que ia ter que procurar minhas irmãs por parte de pai, para saber se alguém tinha tido esse problema. Minha mãe ficou calada, mas uma semana depois minha irmã me ligou falando. Minha mãe não teve coragem de me falar, falou para minha irmã”, relatou a dona de casa.Foi aí que Jacqueline descobriu a verdade. A mãe dela indicou que o verdadeiro pai era um senhor que atualmente morava a apenas duas ruas do endereço da família. “Eu passava todos os dias na porta da casa dele para ir na escola, na ida e na volta, e não sabia que era meu pai”. A dona de casa então foi procurar esse homem, que simplesmente não sabia da existência dessa filha.O encontro
Há seis anos, Jacqueline foi até o escritório de Edvaldo Vieira, onde aos poucos revelou que ele poderia ser pai dela. Inicialmente ele não acreditou muito, porque ao fazer as contas pela data de nascimento da dona de casa, não teria dado o tempo necessário para a gravidez.No entanto, Edvaldo aceitou fazer o teste de DNA, que deu positivo. Desde então, os dois vivem como pai e filha. E desde março deste ano, a situação está oficialmente na documentação de ambos.Depois disso, novos exames acabaram revelando que a doença do filho de Jacqueline era outra. Também grave e necessitando de tratamento, mas não era o problema de saúde hereditário que a fez procurar pela família paterna.“Meu filho tem uma doença inflamatória intestinal, mas aquela doença grave de metabolismo parece que foi só para achar meu pai. Repetimos os exames e deu normal”.Segredos
Jacqueline disse que no começo ficou chateada com a mãe, mas que hoje tem uma boa convivência com ela. Entende que a mãe teve seus motivos, embora ela não tenha deixado claro o que a motivou a guardar esse segredo por tanto tempo.“Não julguei e não condenei. Ela teve os motivos dela. Agora é vida para frente”, disse.Já em relação ao pai, a dona de casa contou que se dá bem com a nova parte da família.“Tem seis anos que a gente se conhece e graças a Deus tenho boa convivência com meus irmãos. Nossa convivência é como se a gente sempre tivesse se conhecido”.Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.Fonte: Metrópoles