Um levantamento realizado pelo jornal Estadão mostrou que artistas sertanejos como Gusttavo Lima, Zé Neto & Cristiano, Luan Santana, Wesley Safadão e Leonardo receberam cerca de R$ 14,5 milhões em shows bancados com dinheiro público e pagos por cidades com menos de 50 mil habitantes em 2022. A verba, em muitos casos, vem de parlamentares de Brasília e poderia ser empregada em benefícios à população.A investigação realizada pelo jornal mostrou que ao menos 48 prefeituras investiram pesado na contratação de músicos sertanejos, até mesmo municípios em que a população sofre sem energia elétrica, saneamento básico, asfalto ou posto de saúde. Deputados e senadores enviam recursos diretamente para o caixa das prefeituras, que podem dar ao dinheiro o destino que bem entenderem, sem prestação de contas.Esse “cheque em branco” recebido pelas prefeituras são as chamadas “emendas Pix”. O dinheiro cai direto na conta da prefeitura e nem mesmo os vereadores sabem ao certo quanto será gasto com os shows. Só neste ano, as cidades que contrataram as apresentações sertanejas receberam R$ 28,5 milhões em emendas parlamentares de uso livre.Um exemplo é a cidade de Mar Vermelho, em Alagoas, localizada a 110 km de Maceió. Ela está entre os municípios de menor renda no País e enfrenta problemas de saneamento (presente em apenas 14,9% das casas), ausência de pavimentação (só 24% das moradias estão em ruas com urbanização adequada) e de emprego (apenas 9,4% da população estava empregada em 2019).Isso tudo não impediu, no entanto, que o prefeito André Almeida (MDB) gastasse R$ 370 mil em um show do cantor Luan Santana. A cidade tem apenas 3.474 habitantes. É como se cada morador tivesse de desembolsar R$ 106 com o cachê do artista. Já a cidade de Areia Branca, no Sergipe, gastou R$ 550 mil em um show de Wesley Safadão. O município tem 18 mil habitantes e somente 8,6% deles tem acesso à rede de esgoto.Críticas
Especialistas em contas públicas criticaram as destinações das verbas públicas. “Esse é um sintoma claro da captura do Orçamento por interesses menores em que o dinheiro é desperdiçado com gastos de baixa eficiência, baixa qualidade e questionável prioridade”, disse Marcos Mendes, do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) ao Estadão.“É evidente que tem um caráter eleitoreiro. As pessoas ficam muito gratas ao prefeito ou ao parlamentar que colocou a emenda porque o cidadão atribui a esses políticos a gratuidade do show, que não é gratuito. (…) É mais fácil desviar recursos por causa de um show do que por causa de uma obra. Uma obra pode ser aferida. Num show, é tudo muito relativo”, ressaltou Gil Castello Branco, diretor executivo da Contas Abertas.O “caça às bruxas” envolvendo o pagamento de cachês milionários com verbas públicas a artistas sertanejos começou depois que o cantor Zé Neto, da dupla com Cristiano, criticou a funkeira Anitta e a Lei Rouanet. Internautas, então, começaram a “desenterrar” informações referentes a contratações de apresentações de artistas do segmento por parte de administrações públicas.O cantor Gusttavo Lima foi um dos mais afetados. Em apenas três contratos (com as prefeituras de São Luiz, no Maranhão, Mato Dentro, em Minas Gerais e Magé, no Rio de Janeiro), o famoso embolsou a bagatela de R$ 3 milhões de reais. O Ministério Público entrou na história e abriu investigações nesses três casos. Já em Teolândia, na Bahia, que contratou Gusttavo Lima por R$ 704 mil, o show foi cancelado.Fonte: Em off