Quem visita o Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, enquanto realiza caminhadas e pedaladas pela ciclovia, não deixa passar despercebido a novidade: no Estacionamento 13, vários canteiros de uma horta comunitária margeiam um trecho da ciclofaixa. De alface crespa, acelga e cebolinha a mostarda, espinafre e repolho, as folhagens encantam diversos frequentadores do local.Quem parou para conferir foi Cléber Bezerra, 38 anos. O construtor e morador do Jardim Botânico aprovou o projeto. “É uma iniciativa muito bacana, eu também tenho uns cinco canteiros em casa. É ótimo lidar com a terra. Em casa, eu tenho ervas medicinais, folhagens e estou plantando abóbora, tudo natural, sem agrotóxico. Isso é a melhor coisa do mundo”, garante. Ele avalia que a horta comunitária só trará benefícios. Frequentador assíduo do Parque da Cidade, Cléber já divulgou a ideia: pegou o celular, gravou um vídeo da plantação e mandou para amigos elogiando a proposta.A horta comunitária foi idealizada pela administração do Parque da Cidade e está na etapa de planejamento. Embora o projeto seja piloto, o objetivo é expandir os canteiros para outros pontos do local e atender visitantes, creches e asilos. Administrador do parque, Carlos Alberto explica que a ideia nasceu logo no começo da gestão. “Queremos que os espaços sejam ocupados de uma forma a trazer a integração entre o frequentador e o parque, seja por meio do exercício físico ou do cuidado da horta, que é uma ação mais terapêutica que ele pode participar e, ao mesmo tempo, ajudar o próximo”, destaca.No momento, quem atua no cuidado com a terra e na irrigação das plantas são os colaboradores da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap). “É um projeto piloto, que teve a ajuda da Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil) que nos deu apoio no manuseio do terreno para ser montada a horta, além dos colaboradores da Funap que fazem a rega. Depois, vamos alinhar como os frequentadores poderão nos ajudar. A intenção é que o projeto se espalhe até mesmo para outros parques”, adianta o administrador.Contato com a terra
Nutricionista, Luciana Miranda ressalta que os benefícios de uma horta comunitária são enormes. Desde o conhecimento da origem do alimento até o consumo de verduras e folhagens mais frescas. “Eles são mais nutritivos, saudáveis e saborosos. Além disso, são livres de agrotóxicos. Esse último ponto faz muita diferença, pois alimentos que tiveram seu beneficiamento junto de agrotóxicos, podem acarretar grandes riscos à saúde de quem os consome de forma contínua”, detalha.Luciana acrescenta que o contato com o cuidado da horta é outro benefício. “É como uma terapia ou se torna uma terapia para aqueles que se dedicam a este tipo de cultura, faz bem para a mente e para o corpo, que vai estar em movimento, e é uma satisfação quando se vê o que se planta nascendo, alimentando outras pessoas”, afirma a nutricionista.Maria do Socorro, 50, é uma das apaixonadas por horta. Ela conta que só não tem canteiros em casa, em Taguatinga Sul, por falta de espaço, mas confessa que quando tiver a oportunidade de morar em um lugar maior, vai plantar frutas e ter um canteirinho. “Tudo natural, para gerar alimento. A horta é uma maravilha, é sadia, é comida”,. Maria trabalha há oito anos como massoterapeuta no Parque da Cidade, e a tenda em que atende fica bem de frente à horta comunitária. “Eu adorei a ideia, é uma beleza, e eles falaram que é para a gente mesmo cuidar, levar para casa, depois ajudar a plantar”, finaliza.Três perguntas para
Talyta Machado, nutricionistaQuais os benefícios de uma horta comunitária?Quando pensamos em hortas caseiras ou comunitárias, temos que avaliar a questão ambiental e financeira. Ela é economicamente sustentável e garante uma alimentação saudável de forma mais acessível, além de ter o benefício de uma alimentação que respeita a sazonalidade, o tempo que os vegetais levam para crescer. Vivemos em uma sociedade industrializada, e perdemos um pouco a essência como ser humano, de conexão com a terra, com as estações do ano, com o sol e a chuva. A medicina tradicional indiana, por exemplo, fala que cada estação nos dá o alimento que é adequado para aquele período. E esse contato mais próximo com a natureza, retoma isso. Lidar com a horta melhora questões de ansiedade, estresse, diminui a produção de cortisol, e a pessoa conhece melhor a natureza e os alimentos. É uma relação saudável entre corpo e mente.Ser livre de agrotóxicos faz diferença?O consumo de agrotóxicos pode diminuir a absorção de certos nutrientes, como magnésio. O agrotóxico faz um processo chamado de quelação, em que ele gruda com o magnésio e outros minerais e é eliminado pelas fezes, ou seja, perdemos nutrientes. Outra coisa importante, é que quando uma planta está na terra e precisa lidar com as pragas, ela se protege produzindo compostos bioativos, que são anti-inflamatórios e superimportantes para a nossa saúde. Quando temos o agrotóxico, contudo, essa planta não tem grande necessidade de produzir esses compostos bioativos. Plantas orgânicas tem muito mais compostos bioativos.Estamos chegando em um período de baixa umidade no DF. Tem alguma recomendação?
É importante não esquecer de tomar água. Neste período, ficamos procurando bebidas refrescantes, por causa do calor, mas temos que ter cuidado, porque sorvetes, sucos e chás não substituem a água. A água é sempre a base. Outra dica é comer alimentos frios e com alta umidade, como melancia, saladas tropicais e cruas, por exemplo.Hortinha em casa
Cuidados para uma horta saudável:» Não desista depois de um primeiro erro ou tentativa frustrada
» Escolha um local onde tenha luz do Sol por, pelo menos, 3 horas ao dia
» Cuidado com o excesso de água, a falta é perigosa, mas o excesso também é prejudicial e pode levar os nutrientes da planta embora
» Adube bem a terra, aproveitando os recursos de casa. Um adubo caseiro que pode ser feito é com casca de banana, casca de ovo e borra de café. Depois, é necessário colocar os itens no forno ou para secar no sol durante alguns dias. Com eles secos, bata no liquidificador e misture até virar um pó. Por mês, em um vaso de 2kg, duas colheres de sopa da mistura é o suficiente para agregar cálcio e outros nutrientes à plantaAutorização
A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater) informa que a implementação de hortas comunitárias devem ser feitas com a autorização da Administração Regional da cidade. “Esse é o órgão responsável por avaliar, junto a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), se o terreno pode ser utilizado para esse fim com os georreferenciamentos adequados. Em seguida, a administração entra em contato com a Secretaria de Agricultura (Seagri), que dá continuidade aos trâmites. A Emater entra após acionada pela Seagri com os insumos e as orientações necessárias”, informa.Fonte: Correio Braziliense