Era uma vez o Fato. E ele dizia que Jair Bolsonaro teria grandes chances de obter um segundo mandato porque todo presidente candidato à reeleição se reelegeu de 1998 para cá – Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT).A política ensina que um Fato só é revogado por um Fato Novo, e o Fato Novo pelo Fato Consumado. Na eleição de 2006, o Fato Novo foi o inesperado bom desempenho de Geraldo Alckmin como candidato do PSDB a presidente da República.A princípio, o “picolé de chuchu” de Pindamonhangaba, sem graça, sem carisma, que governara São Paulo, não seria parada indigesta para Lula, presidente e candidato à reeleição. É verdade que o escândalo do mensalão do PT, meses antes, abalou Lula.Mas como o PSDB achou melhor deixar o presidente sangrar ao invés de derrubá-lo por meio de um processo de impeachment, Lula teve tempo de recuperar-se. Mesmo assim, na reta final do primeiro turno, Alckmin cresceu e quase ultrapassou Lula.No segundo turno, o Fato Novo foram os sucessivos e graves erros de campanha cometidos por Alckmin, acontecendo no final o que não se imaginava possível: Alckmin foi menos votado do que no primeiro turno. Foi um fato excepcional, e como tal permanece.O fato de Bolsonaro, pela sua condição de presidente, ser o candidato favorito a vencer as eleições deste ano, acabou revogado pelo Fato Novo de o Supremo Tribunal Federal ter anulado as condenações de Lula, devolvendo-lhe a elegibilidade.Logo, Lula foi para a cabeceira das pesquisas de intenção de voto e desde então não mais saiu de lá. De lá, só sairá para o abraço, se se eleger. Ou derrotado pelo Fato Consumado da reeleição de Bolsonaro. Estamos a 18 dias para as eleições.Dizem que Bolsonaro está à procura de um Fato Novo que revogue o Fato Novo de ter sido atropelado pela candidatura de Lula, e que resulte no Fato Consumado de sua própria reeleição. Bolsonaro irá a Londres para o funeral da rainha Elizabeth II.E, em seguida, a Nova Iorque para a abertura de mais uma Assembleia Geral da ONU. Seus assessores, ou alguns deles, estimam que o Fato Novo buscado por Bolsonaro venha daí. Quem sabe seu desempenho nas duas ocasiões não lhe rendem votos.Bobagem. Só se algo de extraordinário ocorresse. A ressurreição milagrosa da rainha, por exemplo. Ou os delegados à Assembleia Geral da ONU aplaudirem de pé o discurso de Bolsonaro. Da vez anterior, Bolsonaro chamou atenção por seu isolamento.Bem, o Fato Novo poderia ser a postura humilde adotada por Bolsonaro nas últimas 48 horas. Em um podcast cristão, ele disse que errou no combate à pandemia da Covid-19 e que se arrependia. Errou, bem entendido, só no uso de certas expressões.Não deveria ter dito: “Não sou coveiro”. Não deveria ter dito que o imunizado com a vacina da Pfizer poderia virar “jacaré”. Quanto a recomendar o tratamento precoce da doença à base de drogas comprovadamente ineficazes… Não, nesse caso não errou.Lembra-se do Jairzinho Paz e Amor, fantasia usada por Bolsonaro para escapar ao desgaste de ter ameaçado no 7 de setembro de 2021 não mais respeitar ordens do ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “canalha”? A fantasia era de algodão barato.A fantasia do Jairzinho, O Humilde, que agora fala em transferir a faixa presidencial para seu sucessor se essa for vontade de Deus, recolhendo-se ao ócio por não ter mais o que fazer sobre a face da Terra, tem prazo de validade menor do que a outra.É jogada para despertar a piedade dos eleitores indecisos, ou atrair eleitores que poderiam abandonar Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). Assessores de candidatos devem estar sempre prontos para justificar maus resultados de pesquisas.Há mais de 6 meses é o que faz Ciro Nogueira (PP-PI), chefe da Casa Civil da Presidência. Sem mais desculpas a oferecer, Nogueira apelou para o nonsense. Disse que a campanha de Bolsonaro vai bem, obrigado, e que isso ficará claro quando terminar.Quando terminar… E se o Fato Consumado da reeleição de Bolsonaro não tiver revogado o Fato Novo da candidatura de Lula? O que Nogueira dirá? Nada. E, se disser, o que quer que diga não despertará o mínimo interesse do distinto público.Nogueira irá lamber suas feridas. A nada mais ter o que fazer sobre a face da Terra, Bolsonaro estará prestando contas ao Salvador. Ou a Alexandre de Moraes.Fonte: Metrópoles