Quem enfrenta a calvície ou problemas relacionados à queda capilar não mede esforços em tentar reverter o quadro. Terapias, shampoos especiais ou tratamentos inovadores são colocados à prova por pacientes. Recorrer a alguns métodos requer mexer no bolso por eles serem caros, entretanto, existem dermatologistas que pregam a utilização de uma técnica mais acessível. Especialistas defendem o uso do minoxidil, mas de uma maneira diferente.Dermatologista da Escola de Medicina de Yale, nos Estados Unidos, o médico Brett King é um dos profissionais que disseminam a tese do minoxidil ser um útil para o crescimento capilar. Calma lá, nada de correr para adquirir a fórmula. Os especialistas não sugerem aplicar o produto diretamente no couro cabeludo. Eles passaram a prescrever a substância em forma de pílulas, com dose medicamentosa muito baixa.Em entrevista ao site The New York Times, King reiterou a respeito do tratamento ter o potencial de restaurar o cabelo “em muitos pacientes”. Até então, a metodologia não dispõe de aprovação da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora norte-americana. Os experts indicam as pílulas de maneira off-label, isto é, feito por conta e risco do médico que prescreve.Professor e presidente do departamento de dermatologia da Emory University School of Medicine, Robert Swerlick explicou que a substância, quando ingerida por via oral, é automaticamente convertida em um modo ativo, o que não ocorre com a aplicação tópica. “O minoxidil deve ser convertido em uma forma ativa pelas enzimas sulfotransferases que podem ou não estar presentes em quantidades suficientes nas raízes do cabelo”, explanou.Pesquisa
A descoberta sobre os efeitos das pílulas de minoxidil não ocorreu por agora, mas “por acidente, há 20 anos”, conforme publicou o The New York Times. Professor de dermatologia da Universidade de Melbourne, na Austrália, Rodney Sinclair atendeu uma paciente com calvície feminina. Ela odiava a aparência por apresentar o cabelo ralo e passou a aplicar a composição no couro cabeludo.A paciente desenvolveu uma alergia na região após a uso do medicamento, porém, ela não queria interromper a utilização com receio das madeixas ficarem finas novamente. Diante do quadro e do impasse, o médico resolveu acionar o plano B. “Ela estava muito motivada e sabíamos que, se um paciente tem alergia a um medicamento aplicado topicamente, uma maneira de dessensibilizar é administrar doses muito baixas por via oral”, esclareceu.Sinclair cortou as pílulas em quatro partes e ofereceu à paciente. De acordo com o dermatologista, “a dose baixa fez o cabelo dela crescer”. Ao presenciar o efeito, o especialista buscou diminuir a dose até chegar a um quadragésimo de uma pílula. Ele começou a prescrever rotineiramente a quantidade a outras pessoas que chegavam ao consultório.Em 2015, Rodney Sinclair participou de um simpósio médico em Miami, nos EUA. Na ocasião, ele relatou que baixas doses de minoxidil estimularam o crescimento das madeixas em 100 mulheres. O dermatologista publicou os resultados em 2017. Na avaliação do profissional, são necessários estudos mais rigorosos. Para uma nova pesquisa, ele sugeriu que alguns pacientes fossem aleatoriamente designados a tomar a fórmula e outro um comprimido de açúcar.Pela apuração do The New York Times, só cresce o número de dermatologistas que passaram a receitar pílulas de baixa dosagem de minoxidil para homens e mulheres com queda capilar. “Estou começando a ver um aumento na popularidade”, destacou Crystal Aguh, especialista da Johns Hopkins School of Medicine. A expert acrescentou: “Cada vez mais, em conferências, estamos compartilhando nossas histórias de sucesso”.Em situações graves da perda de fios, o uso oral do “minoxidil não ajudará”, atestou Aguh. “Não vai funcionar, por exemplo, se um homem for quase careca, com o couro cabeludo brilhante. Não há nada para restaurar”, pondera. Segundo a expert, o paciente ideal não deve ser totalmente calvo, mas que perdeu os fios suficientes para ter de procurar um tratamento ou procedimento estético.Ao The New York Times, os médicos alegaram que o FDA não deve aprovar a metodologia devido ao minoxidil “custar centavos”. “Não há incentivo para gastar dezenas de milhões de dólares para testá-lo em um ensaio clínico. Esse estudo realmente nunca será feito”, endossou Brett King, da Escola de Medicina de Yale. Pode parecer perigoso experimentar medicamentos off-label, contudo, nos Estados Unidos, a prática é comum.Nos EUA, os dermatologistas são treinados para entender como os medicamentos funcionam, o que lhes permite prescrever de maneira off-label. Por serem aplicados na pele, costuma ficar claro se o tratamento melhora o quadro ou prejudica. “Nos chamam de bandidos off-label, título que tenho orgulho de apresentar”, declarou Adam Friedman, professor e presidente da Universidade George Washington.O que é o minoxidil?
A história do minoxidil teve início em 1988, época foi aprovado pela primeira vez para os homens. Quatro anos depois, chegou a vez das mulheres. A princípio, a substância era dedicada a tratar casos de pressão alta, entretanto, os pacientes notaram o crescimento dos pelos em todo o corpo e comunicaram aos médicos. Ao saber dos relatos, a fabricante desenvolveu uma loção minoxidil a ser esfregada no couro cabeludo, batizada de Rogaine.De acordo com os dermatologistas, a loção não tem tanta eficácia em alguns pacientes. Primeiro, a substância precisa entrar no couro cabeludo, porém, o cabelo atrapalha. Em relação às mulheres, a maioria delas deixa de aplicar a composição por não gostar da textura pegajosa. O atual proprietário da fórmula é a Johnson & Johnson. O The New York Times procurou a marca de cosméticos, mas não obteve sucesso com as respostas.Fonte: Metrópoles