Em 11 de novembro de 1989, a poucos dias do primeiro turno da primeira eleição presidencial depois do fim da ditadura militar de 64 de triste memória, escrevi um artigo no Jornal do Brasil, onde trabalhava, sob o título: “Cheiro de Lula no ar”.O que estava em discussão à época era quem enfrentaria Fernando Collor de Mello (PRN) no segundo turno – se Lula (PT) ou Leonel Brizola (PDT), ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, herdeiro do trabalhismo de Getúlio Vargas.Foi Lula que enfrentou Collor, derrotando Brizola por 0,5% dos votos, a maior titica de votos das eleições presidenciais brasileiras até aqui. No segundo turno, Collor venceu Lula com 53% dos votos válidos, contra 47% do petista. Uma semana depois, fui demitido do jornal.Em maio daquele ano, quando Collor apareceu em primeiro lugar nas pesquisas, eu havia escrito um artigo sobre ele com o título “Falso brilhante”. E em 15 de dezembro, escrevi sobre o candidato que era tratado como “fenômeno” (hoje seria “Mito”):“Collor é um político capaz de fazer qualquer coisa para alcançar os objetivos dele. Releva aspectos morais e éticos, desrespeita costumes e atropela princípios para obter o que deseja. Pode até conseguir se eleger assim, mas que tipo de presidente será?”.Lula, hoje, admite que não estava preparado para governar o país em 1989. Collor, derrubado pelo Congresso dois anos depois sob a suspeita de ser corrupto, é senador e tenta voltar ao governo de Alagoas, de onde saiu com a fama de “caçador de marajás”.Nos seus tempos áureos, o PT era um “partido de chegada”. Crescia na reta final das campanhas, surpreendendo os adversários. Ou enxergo mal, ou começo a ver uma onda petista em formação. Não será um tsunami, mas marolinha também não.Há uma ou duas semanas, por exemplo, dava-se ACM Neto (União) como eleito governador da Bahia no primeiro turno. Há fortes sinais de que ali haverá segundo turno, podendo a eleição ser resolvida ainda no primeiro a favor de Jerônimo (PT).Não é por outra razão que Lula, que pretendia encerrar sua campanha em São Paulo, viajará ao Rio, Bahia e Ceará nesta sexta-feira. Irá ao Rio ajudar Marcelo Freixo (PSB) e a si mesmo. Ao Ceará, para ajudar Eumano (PT), candidato ao governo.O PT do Piauí espera que, indo ao Ceará, Lula dê um pulo por lá, é pertinho. Ciro Nogueira (PP-PI), chefe da Casa Civil de Bolsonaro, dava como certa a vitória do seu candidato ao governo do Piauí, e também do seu candidato ao Senado. Mas, na terça-feira…Na terça-feira, por volta das 23h, foi visto desembarcando de cara amarrada do voo da TAM em Teresina. Havia meia dúzia de pessoas à sua espera, metade carregadores de mala. Ciro aposta que no seu terreiro é só marola a onda petista. A conferir.É a mesma aposta que faz em Minas Gerais Romeu Zema (Novo) diante do encurtamento da distância entre ele e Alexandre Kalil (PSD), apoiado por Lula. Mas isso Zema diz da boca para fora. Para quem ganharia no primeiro turno, ele não gosta do que vê.Pernambuco vai “mariliar” domingo. Marília Arraes (Solidariedade), a candidata mais identificada com Lula no estado, poderá se eleger no primeiro turno. O mais provável, no entanto, é que dispute o segundo, contra quem ainda não se sabe.A escolha do candidato contra Marília está nas mãos dos prefeitos. Eles poderão pôr no segundo turno qualquer um dos quatro candidatos empatados nas pesquisas. Nas mãos dos prefeitos paulistas estará a sorte dos que por lá irão para o segundo turno.A dobradinha Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (PL) poderá excluir do segundo turno Rodrigo Garcia (PSDB), mas o número de eleitores paulistas indecisos é grande. Indecisos costumam decidir em quem votar na noite da véspera da eleição.Quanto a Lula e Bolsonaro, faça sua aposta. Haverá segundo turno? Torço para que não. Escrevi há mais de um ano que votaria no candidato que fosse capaz de derrotar Bolsonaro, poderia até ser o Eymael, um democrata cristão do qual nem se fala.Fonte: Metrópoles