Para o advogado paulista Harley Cerqueira, de 50 anos, os esportes sempre foram uma constante na vida. Entusiasta dos exercícios físicos, ele já experimentou vários e os treinos intensos faziam parte da rotina. Por causa dos bons hábitos de vida e da saúde aparentemente impecável, ele nunca suspeitou que quase morreria durante uma prova.Em 2019, o atleta amador se preparava para uma maratona em Porto Alegre quando desmaiou durante o treino e foi levado a um hospital por um amigo. Lá, ele passou uma semana internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas os médicos não identificaram a causa e o liberaram.“Acharam que era estresse ou qualquer outra coisa. Ninguém suspeitou que era um problema no coração”, afirma o advogado.No dia 11/6 de 2019, três meses depois do episódio, Harley foi a Porto Alegre para a competição. Ele estava determinado a percorrer todos os 42,195 km do trajeto e não parou após notar, ainda nos primeiros quilômetros da corrida, que o relógio marcava batimentos cardíacos muito acelerados.“Achei que o relógio estava errado e continuei. No percurso ainda acompanhei uma senhora, estreante na corrida, que teve uma crise de asma. Chamei ela para completar a meia maratona comigo e fomos juntos”.Mas ao cruzar a linha que marcava os 21 km – ou seja, metade do percurso – Harley desmaiou. Foi socorrido com urgência pela equipe médica do evento, que suspeitou que o atleta havia tido uma parada cardiorrespiratória.O advogado ficou em observação em um hospital da capital gaúcha e foi liberado uma hora mais tarde. No mesmo dia, voltou para São Paulo, onde realizou exames para identificar a origem dos desmaios.O diagnóstico deixou o advogado surpreso: tratava-se de uma anomalia congênita de uma das coronárias. O problema aparece ainda no período de formação da criança e, no caso de Harley, consistia no posicionamento errado de um dos três principais vasos sanguíneos que nutrem o músculo cardíaco. A má formação levava a artéria a funcionar incorretamente, pois ficava comprimida.“Não souberam explicar como eu não tinha morrido. Os médicos disseram que a sobrecarga de uma prova como a que eu estava participando é tão intensa que a maioria dos atletas morre sem ter diagnóstico”, relata.Para corrigir o problema, Harley precisaria passar por uma cirurgia para posicionar a coronária no local certo. “Foi um susto imenso. Nunca pensei que fosse precisar de uma cirurgia no coração, de abrir o peito. Foi assustador”, relembra.A cardiologista Roberta Saretta, que gerencia o Centro de Cardiologia do hospital Sírio Libanês, onde ele se operou, explica a gravidade do caso. “Harley é um paciente jovem que apresentou síncope durante uma maratona. Durante a investigação clinica, ele foi diagnosticado com uma alteração congênita conhecida como coronária anômala e, nesse cenário, o tratamento é a correção cirúrgica para reimplante da artéria”.Cuidados na recuperação
O advogado conta que desde o início foi informado pelos profissionais de saúde sobre a possibilidade de voltar a correr em competições. No entanto, seria preciso readaptar o corpo ao que ele chama de “coração novo”.A religação da coronária e o processo de reabilitação foram coordenados pela cardiologista Roberta Saretta. Ela conta que um dos principais objetivos era fazer com que o paciente se sentisse confiante para retomar a vida que tinha antes da operação. “Tínhamos em mente que os exercícios físicos eram muito importantes para a vida dele e que deveríamos conseguir que ele se sentisse confiante para voltar a praticá-los”, relata a médica.Após três meses de reabilitação intensa, com o foco na volta do paciente aos esportes, Harley participou de sua primeira prova. “Foi uma das provas mais simbólicas da minha vida, literalmente o começo de uma segunda vida. Hoje considero o dia em que desmaiei como meu segundo aniversário”, diz o advogado.Durante o percurso de 5km, o atleta foi acompanhado por integrantes da equipe que tinham participado do seu processo de readaptação pós-cirúrgica. Ele comenta que foi instruído a não dar o potencial máximo na prova mas, estava tão feliz e com as emoções tão à flor da pele, que nem se lembrou disso.“Foi uma corrida maravilhosa. Passou toda a minha história na cabeça e a gratidão por ter encontrado pessoas que acreditaram e cuidaram de mim”, diz.Atualmente, Harley compete em provas de triatlo. Ele segue uma rotina de treinos intensos duas vezes por semana e comenta descontraidamente que pode continuar a competir por mais 50 anos graças ao novo coração.Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.Já leu todas as notas e reportagens de Saúde hoje? Clique aqui.Fonte: Metrópoles