Se até o final do dia de hoje não reconhecer a sua derrota, Bolsonaro arrisca-se a ouvir de um dos seus mais importantes aliados a sugestão pública para que renuncie ao mandato.Não haveria tempo para depô-lo por meio da abertura de um processo de impeachment, que é demorado. Mas a sugestão, partindo de um político de peso, deixaria Bolsonaro mal na foto.Mal, não, pior na foto. Seu silêncio foi visto como estímulo para que a banda armada e mais radical do bolsonarismo bloqueasse estradas do país na tentativa de criar um clima de golpe.Se era isso o que Bolsonaro queria, conseguiu – a ilusão por horas de que um golpe seria possível para mantê-lo no poder. Ou a enganosa sensação de que jamais será abandonado por seu povo.O ministro Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal não precisaram de muito tempo para acabar com o sonho golpista de Bolsonaro: a polícia foi acionada para restabelecer a ordem.Se ela não o fizesse, se a situação se agravasse, o Supremo examinaria a hipótese de decretar a prisão em flagrante de Bolsonaro por crime contra a Pátria. Quem duvida que faria?Bolsonaro acordou na segunda-feira apoplético. Afirmou a vários dos seus ministros que não aceitaria os resultados das eleições e que elas deveriam ser anuladas porque houve fraude.Foi uma eleição roubada, não se cansou de repetir. Se ele não fizesse alguma coisa, o comunismo dominaria o Brasil. “Os vermelhos estão de volta”, berrou diante de assessores perplexos.A maioria deles não ousou enfrentá-lo. Alguns, mais pacientes, argumentaram que Bolsonaro tinha uma escolha: ou resistir fora da política ou dentro dela. Sugeriram que resistisse dentro.Fora da política, como? Na clandestinidade? Às claras como um líder popular a arregimentar forças para levá-lo ao poder? Dentro da política seria habilitando-se a se candidatar em 2026.Sinceramente? Bolsonaro sabe que é um presidente acidental. Não fosse a Lava Jato, não fosse Lula ter sido preso e condenado, não fosse a facada que levou em Juiz de Fora, ele não teria sido eleito.O Partido Republicano rendeu-se a Donald Trump, governou com ele, perdeu com ele, apoiou-o quando Trump quis dar um golpe e continua com ele que quer retornar a Casa Branca.Bolsonaro não tem partido. Já passou por 10. Anunciou que montaria o seu, e não montou; filiou-se ao PL para ser candidato, mas ali é só um passageiro entre duas estações.Não é um formulador de ideias. Não é um bom orador. Não conhece o mundo, embora o mundo o conheça e despreze. Não gosta de trabalhar. Seu governo foi um desastre. Não tem amigos.Como pensa em manter-se no primeiro plano da política?Contagem regressiva para que Bolsonaro saia de cena: faltam 61 dias para que Lula ponha a faixa presidencial no peito. Ela será tomada de Bolsonaro quer ele queira ou não.Fonte: Metrópoles