A música pop vem se tornando cada vez mais triste: essa é a conclusão de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, analisando as letras das músicas mais tocadas entre 1965 e 2015. O levantamento classificou as palavras mais comuns encontradas nas letras entre sentidos “positivos” e “negativos”, e revelou a tendência à tristeza das canções mais bem colocadas na Billboard. E, como não poderia deixar de ser, uma das explicações para o fenômeno é comercial.A pesquisa pode ser exemplificada a partir do índice mais evidente: o uso das palavras “amor” ou “amar” ao longo dos anos caiu pela metade, enquanto o termo “ódio” ou o verbo “odiar” cresceu no período. O resultado se soma a levantamentos anteriores, que concluíram que as canções mais tristes nos últimos anos passaram a alcançar maior sucesso do que aquelas que expressam sentimentos reconhecidos como felizes. Para além do aspecto comercial, porém, a explicação pode ser aprofundada através de uma das “funções” socioculturais da arte em geral.Os mesmos estudos sugerem, afinal, que as expressões artísticas funcionam como uma espécie de “teste” para a vida real: através das canções, por exemplo, experimentamos sentimentos e reações diante de desafios e mesmo dores, sem correr, porém, o risco que a realidade impõe. Dessa forma, e acompanhando as mudanças do mundo e das épocas, a busca pelo “conforto” em saber que outras pessoas também sentem o que sentimos – também sofrem – pode ter se tornado mais popular.Outro aspecto que parece determinar essa tendência é a influência que a dureza da realidade passou a exercer sobre as canções. Desde o punk e principalmente a partir do sucesso do hip hop, por exemplo, que palavras e sentimentos de denúncia passaram a soar cada vez mais nas letras e músicas, também exacerbando sentimentalidades mais difíceis em detrimento da alegria expressada no pop de outrora.E essa tendência se faz presente até mesmo nas harmonias das composições: um outro estudo, conduzido pela pesquisadora e matemática Natalia Komarova, da Universidade da California, demonstrou que essa tendência à tristeza também se expressa no andamento e na tonalidade das canções de sucesso. Segundo a pesquisa, desde 1985 que vem se tornando mais frequente o êxito de canções em tom menor, considerado mais triste e sombrio que as músicas em tom maior entre as mais bem colocadas nas paradas de sucesso.Fonte: Em off