Um relatório publicado em novembro na revista científica The Lancet projetou que a Europa poderá enfrentar outra grande pandemia na próxima década – causada, no entanto, não por um novo vírus contagioso, mas sim pelo câncer.De acordo com o estudo, o preocupante quadro é derivado diretamente, porém, da pandemia de Covid-19 que, pelas restrições e dificuldades impostas, pode ter impedido milhões de exames, diagnósticos e tratamentos de câncer que poderão representar anos de atraso para o controle da doença no continente pelos próximos anos.Epidemia de câncer
Antes da Covid-19, o câncer já era uma das mais graves causas de morte prematura na Europa mas, segundo o estudo publicado pela Comissão de Oncologia da The Lancet e realizado por cientistas de todo o continente, ao menos um milhão de pessoas deixaram de ser diagnosticadas na região. O estudo foi baseado em dados e pesquisas sobre a doença em suas diversas variações, e concluiu que a lacuna poderá causar saltos consideráveis em diagnósticos ao longo da próxima década – e, pela carência da importante descoberta precoce da doença, os casos podem ser especialmente fatais.“Estimamos que aproximadamente um milhão de diagnósticos de câncer foram perdidos em toda a Europa durante a pandemia. Estamos em uma corrida contra o tempo para encontrar esses cânceres ausentes”, afirmou o professor Mark Lawler, da Queen’s University, em Belfast, Reino Unido, presidente e principal autor do estudo. “Além disso, vimos um efeito assustador na pesquisa do câncer com laboratórios fechados e ensaios clínicos adiados ou cancelados na primeira onda da pandemia”, disse.O relatório detectou cerca de 1,5 milhão de pacientes identificados a menos no primeiro ano de pandemia, com 50% deixando de receber uma cirurgia ou o tratamento devido, como quimioterapia. Outro aspecto preocupante levantado foi a perda de cerca de 100 milhões de testes de rastreamento da doença, que podem piorar ainda mais a lacuna nos diagnósticos.O quadro se agrava especialmente, segundo o documento, pelo fato de que a guerra entre Rússia e Ucrânia pode reduzir os estudos sobre câncer, já que os dois países envolvidos na crise são também grandes investidores em pesquisas sobre o tema.
Como combater o quadro
A fim de atingir a meta de 70% de sobrevivência entre todos os pacientes diagnosticados até 2035, o relatório sublinha a importância de maiores investimentos em estudos como forma de reverter a situação prevista. Da mesma forma, a aceleração das pesquisas sobre o impacto da Covid-19 na epidemiologia do câncer no continente se faz fundamental. “Estamos preocupados com o fato de a Europa estar caminhando para uma epidemia de câncer na próxima década se os sistemas de saúde e a pesquisa sobre o câncer não forem priorizados com urgência”, afirmou Lawler. “Já existe uma crescente divisão leste-oeste na pesquisa europeia sobre o câncer e é crucial que a guerra Rússia-Ucrânia não aumente essa lacuna” afirma Andreas Charalambous, Presidente da Organização Europeia do Câncer, em comunicado.Fonte: Hypeness