Quando o assunto é emagrecer, uma dieta balanceada aliada à prática de exercícios físicos costuma ser o método mais recomendado. Para certos pacientes, entretanto, as medidas precisam ser radicais.
Nos casos de obesidade ou quando o sobrepeso está associado a outra doença, como diabetes, colesterol alto, hipertensão e problemas no joelho, a indicação médica pode ser o uso de remédios.
Nos últimos anos, o Ozempic ganhou destaque entre os fármacos que promovem a perda de peso. O remédio, criado para tratar o diabetes, passou a ser usado off label para o emagrecimento, e estudos posteriores provaram sua eficácia.
No entanto, muito se fala sobre a possibilidade de “efeito rebote” após o uso do Ozempic – quando o paciente recupera o peso perdido e ganha alguns quilos a mais. A endocrinologista Paula Fábrega, do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, esclareceu o assunto ao Metrópoles:
Como o Ozempic funciona
Paula explica que o Ozempic atua de forma semelhante ao GLP-1, hormônio produzido no intestino que aumenta a quantidade de insulina liberada pelo pâncreas, auxiliando no controle dos níveis de glicose sanguínea.
O remédio age no hipotálamo – área que atua na regulação do apetite – diminuindo a fome. O medicamento tambémo ameniza as contrações naturais do estômago, fazendo com que o alimento demore mais a ser digerido, o que aumenta a sensação de saciedade. Sentindo-se cheio, o paciente come menos.
Efeito rebote
A endocrinologista relata não ser incomum que os pacientes recuperem o peso perdido após deixarem de tomar Ozempic. O efeito rebote ou reganho de peso, no entanto, não é um fenômeno exclusivo para os indivíduos que emagreceram usando a medicação. Ao contrário, é uma consequência possível da suspensão de quaisquer métodos ou medidas necessárias ao controle de peso.
“Quando uma pessoa emagrece, independente de qual foi o método utilizado para perder peso, o corpo entende que a perda de massa não é saudável. A resposta do organismo é aumentar o apetite e reduzir o metabolismo”, detalha Paula Fábrega.
A médica relata que, para cada quilo perdido, a pessoa costuma sentir 100 calorias a mais de fome. E, segundo ela, esse efeito pode ocorrer por até três anos depois da perda de peso. “O reganho é um sinal de que o medicamento funciona, na verdade. Ao tirar o remédio, a pessoa volta a engordar”, afirma.
O endocrinologista Diego Bandeira, do Hospital DF Star da Rede D’Or, reitera a fala de Paula. Segundo Bandeira, ao contrário do que muitos pensam, não ocorre um efeito rebote. O corpo humano possui mecanismos que regulam o ganho ou a perda de peso.
Quando perdemos peso, existe uma resposta fisiológica que reduz nossa capacidade de queimar calorias e que aumenta progressivamente a fome. É por isso que ao tentar emagrecer, chega um momento que essa perda se torna cada vez mais difícil.
Esse efeito ocorre porque sem modificações no estilo de vida, como melhora da alimentação, a prática de atividade física, sono adequado e controle psicológico, além de orientação profissional, cria-se uma dependência completa do efeito do medicamento.
E quando há suspensão, o efeito benéfico sobre a fome e saciedade desaparecem e fazem com que o paciente tenha novo ganho de peso.
Desmame do remédio
Paula esclarece que se a pessoa precisou tomar medicação, seja o Ozempic ou outra do gênero para emagrecer, provavelmente ela precisará usar o remédio por muito tempo.
“Em alguns casos a gente aumenta uma dose, e prescreve outras doses menores de manutenção. O intervalo entre as doses de manutenção é determinado pelo médico, a depender de cada caso”.
Após o emagrecimento, se o médico avaliar que o paciente criou hábitos permanenetes em relação a alimentação regrada e a prática de exercícios físicos, é possível suspender totalmente o remédio.
Mas a endocrinologista ressalta que depois da suspensão, o paciente precisará manter uma rotina de exercícios diários e controlar a alimentação. “Esses cuidados deverão ser seguidos rigorosamente até o resto da vida. O indivíduo vai precisar sempre ter uma vigilância muito ativa porque, sem o remédio, é como se o corpo dele pedisse para engordar”.
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Fonte: Metrópoles