“Meu filho perdeu o olho pela cor dele. Por ele ser negro. Eu peço justiça”, disse Wêda Gonçalves, mãe do autista de 22 anos barbaramente agredido no Distrito Federal. Na manhã deste sábado (7/1), autistas, familiares, organizações sociais e políticos protestaram contra a violência no Parque de Águas Claras, local do ataque.
“Meu filho nunca vai enxergar com o olho dele. E eu nunca vou me conformar com isso. Ele não tirou o olho do meu filho: ele arrancou o meu coração. Dói tanto. Não tenho vontade de comer. A única vontade que tenho é de chorar”, afirmou.
Segundo Wêda, o ataque foi uma tentativa de homicídio motivada por racismo e preconceito.
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O rapaz recebeu alta. Mas o quadro ainda é delicado. Ao abrir o curativo para fazer a assepsia, Wêda fica em desespero. Além do olho perdido, o jovem está com rosto rachado, chegando a chorar por conta das fortes dores dos ferimentos.
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Após ouvir o filho, Wêda considera que o ataque foi racista. Segundo ela, o rapaz contou que foi chamado de preto, fedido, macaco, gorila, gay, veado e preto imundo. “É igual ele falou para a médica: ‘tia, ser negro é crime?’. Ele falou isso para todas as enfermeiras”, desabafou a mãe do rapaz.
A cada conversa com o filho, Wêda se sentia dilacerada. “Dóis demais. Porque ser negro não é crime. Ser homossexual não é crime”, comentou. “Ele falou: ‘mãe, será que foi o meu cabelo? E eu falei: ‘não, filho’”, contou. Para Wêda, a sociedade precisa superar o preconceito.
“Meu filho nunca mais vai ter o olho dele. E eu nunca mais vou ser a mesma mãe. Mesmo tendo quatro filhos, eu nunca mais vou ser a mesma pessoa. Porque você arrancou o olho do meu filho. Você tirou toda a alegria do meu coração. E eu nunca vou perdoar”, chorou.
Acolhimento
Wêda acredita que o ato de protesto foi um gesto importante de acolhimento. Segundo o presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Autismo da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF), Edilson Barbosa, o caso será acompanhado. “Nós queremos que os responsáveis pela barbárie sejam punidos”, afirmou.
Para Barbosa, a população precisa começar a entender e a respeitar os autistas. “A sociedade tem que saber tratar e como se comportar na frente de uma pessoa autista”, comentou. Para os ativistas, o caso deveria ser investigado pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial (Decrin).
Segundo a presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, Cléo Bohn, a sociedade enfrenta um momento complexo de ódio e preconceito. De acordo com a ativista, a solução do problema começa c0m a educação nas escolas e nas famílias.
Governo federal
A secretaria nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Anna Paula Feminella, participou do ato. “A Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que integra o Ministério dos Direitos humanos e cidadania, liderada pelo ministro Silvio Almeida, refunda no governo federal a defesa dos direitos humanos e atua no combate à qualquer forma de violência ou discriminação contra as pessoas com deficiência e atua, em conjunto com presidente Lula, na pauta de inclusão das pessoas autistas, negras. E então estaremos juntos com as famílias e as organizações defensoras de direitos humanos para que se apure todas as denúncias de violências e violações de direitos humanos, além do que vamos atuar na pauta de prevenção e construção de uma cultura de inclusão social e respeito a toda diversidade humana”, comentou.
Segundo a deputada federal Érika Kokay (PT), o caso precisa de respostas e não pode ser acobertado pela impunidade. Para a parlamentar, o Estado deve adotar medidas para mitigar o sofrimento da família e da vítima. “Tem que ter políticas públicas para que a gente uma sociedade que reafirme que a humanidade é uma só”, disse.
Na visão do deputado distrital Max Maciel (PSol), após um longo período de distanciamento social na pandemia de Covid, a sociedade deve ser relembrar da diversidade que tem o direito de ocupar as ruas e territórios. “Era um menino alegre e sorridente que estava apenas sendo ele”, resumiu. O parlamentar também destacou que a comunidade precisa começar a entender e saber tratar as pessoas com transtorno do espectro autista.
O ato também teve participação do presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Direito de Família do DF e conselheiro dos direito humanos do DF, Phellip Ponce; do presidente do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, Michel Platini.
Ajuda
Para cuidar do filho, Wêda precisou parar de trabalhar momentaneamente. Quem puder e quiser ajudar, pode contribuir pelo Pix 61992739990.
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Fonte: Metrópoles