A programação da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva não termina com maratona de shows que ocupará a área central de Brasília entre o dia 1º e 2 de janeiro. Algumas horas depois que tudo for desmontado na Esplanada dos Ministérios, o Museu Nacional da República abre a exposição gratuita Brasil Futuro: as Formas da Democracia, com mais de 100 obras de artistas negros, negras, indígenas, da comunidade LGBTQIA+, além de criadores populares e históricos. A visitação fica aberta até 26 de fevereiro.
As obras expostas estão organizadas em três grupos. Um celebra a democracia e o resgate dos símbolos nacionais; outro revisita pautas do feminismo, da negritude, dos povos originários, do movimento LGBTQIA+, e o terceiro convida o público a refletir sobre a riqueza étnica, de gênero, regional e de linguagens presentes na cultura do Brasil.
Em entrevista ao Metrópoles, a historiadora Lilia Schwarcz, responsável pela curadoria junto ao o arquiteto Rogério Carvalho, o ator Paulo Vieira e o secretário de Cultura do Partido dos Trabalhadores (PT), Márcio Tavares, explica que a exposição visa reconhecer a participação dos artistas plásticos na luta pela democracia. “Esses artistas que foram tão censurados no governo de Jair Bolsonaro e, ao mesmo tempo, fizeram uma oposição tão flagrante em favor da diversidade, da democracia e da República”, diz.
Segundo Lilia, o termo “futuro”, no título, está relacionado à máxima de que democracia é um projeto em aberto, a ser aperfeiçoado: “Porque sempre surgem novas lutas e é preciso que uma República se abra a essas demandas de novas agentes, novos públicos, por direitos”.
A historiadora conta que fez questão de contribuir com a curadoria, apesar do prazo, inferior a um mês, para deixar tudo pronto. “Acredito que a cidadania é assim, uma franquia da democracia. Cada um uma realiza a partir de seu lugar. Eu achei que era meu papel devolver. Eu que estudei em escola pública, fiz universidade pública, leciono em uma universidade pública. É uma forma de devolver um pouco do que eu aprendi, nesse momento tão festivo e tão importante”.
Lilia Schwarcz
Acervo
Cerca de metade das obras expostas são dos acervos do Museu Nacional, do Museu de Arte de Brasília (MAB) e da Presidência da República. A tela Orixás (1962), de Djanira da Motta e Silva (1914-79), terá lugar especial na exposição. A obra havia sido retirada do Salão Nobre do Palácio do Planalto em dezembro de 2019, por causa da temática ligada a culto religioso de origem afro-brasileira. A outra parte das peças de arte foi emprestada para a exposição por galerias e colecionadores.
A indígena Daiara Tukano, referência à sua etnia, presente no Alto Rio Negro, na Amazônia brasileira, nascida em São Paulo, produziu uma tela especialmente para a exposição. O quadro frisa a importância dos povos originários na luta pela preservação da vida no planeta. Em tinta acrílica sobre tela, com quatro metros de largura por dois de altura, a obra teve de ser produzida no próprio Museu Nacional.
“Pintei numa semana e teve de ser lá porque não tinha espaço para fazer isso em casa”, conta ela sobre o quadro, batizado de A Queda do Céu e a Mãe de Todas.
Daiara explica que o título também faz referência ao xamanismo Yanomami registrado no livro A Queda do Céu, (Davi Kopenawa e Bruce Albert, 2015), sobre como os indígenas são responsáveis por manter a floresta em pé, em um momento em que o aquecimento global está no topo da agenda ambientalista no mundo. “”É ao mesmo tempo uma imagem de luto e de luta diante dos desafios que a humanidade tem de enfrentar diante da fragilidade da vida”, diz.
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Fonte: Metrópoles