A jornalista Flávia Vargas, de 45 anos, conta que passou por pelo menos 15 episódios de gravidez psicológica antes de dar à luz o único filho, Rafael, de 21 anos. “Meus seios ficavam maiores, eu sentia muito enjoo e minha barriga inchava”, afirma.O ciclo irregular e o fato de não poder tomar pílulas anticoncepcionais, por apresentar reações adversas, levavam Flávia a ter “certeza” de que estava grávida sempre que a menstruação atrasava. Mesmo fazendo testes de farmácia, que davam negativo, ela só se tranquilizava quando a menstruação descia.Em um dos episódios, a barriga cresceu tanto que ela acreditou estar esperando gêmeos. Em outro, uma secreção chegou a sair de um dos seios. O sintoma preocupou Flávia e a fez marcar uma consulta com o ginecologista. “Ao ouvir o meu relato, ele disse que, possivelmente, eu estava tendo uma pseudociese (gravidez imaginária)”, diz. “Para mim, soou como um absurdo. Nunca tinha ouvido falar nisso”.Convicta de que o ginecologista estava errado, Flávia procurou outro profissional, mas o diagnóstico que recebeu foi o mesmo. Além disso, foi orientada a procurar tratamento psicológico urgentemente.“Nunca me imaginei naquela situação, apesar de hoje enxergar que o diagnóstico era óbvio. Mas quem passa por isso, não se convence. Tem certeza de que está grávida”, explica.Gravidez psicológica
A gravidez psicológica, também chamada de pseudociese, é um transtorno psicológico no qual a mulher tem convicção de que está grávida, mesmo que exames provem o contrário. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 22 mil gestações ao menos uma é psicológica.Segundo o ginecologista Carlos Moraes, de alguma forma, ainda não explicada pela ciência, o cérebro reage a estímulos provocados por mudanças no estado emocional e desregula a produção dos hormônios femininos.As funções endócrinas, corticais e hipotalâmicas passam a trabalhar como se, de fato, houvesse uma gestação, o que resulta nos sintomas de uma gravidez real. Os sintomas são os mesmos de uma gestação normal:Ausência de menstruação;
Náuseas e enjoos matinais;
Desejos alimentares;
Sonolência;
Crescimento e dor nos seios;
Aumento do apetite;
Produção de leite nas mamas;
Distensão abdominal.
Algumas mulheres chegam a sentir movimentos no abdômen, dores e contrações semelhantes as de um parto.TratamentoSegundo a psiquiatra, Danielle Admoni, mulheres que viveram traumas, como abuso sexual, perda gestacional ou de um filho, são mais propensas ao quadro. As que experimentam pressão dos parceiros ou de familiares para engravidar ou têm dificuldades relacionadas à fertilidade também estão mais propensas a viver uma gravidez psicológica.A psicóloga afirma ainda que, geralmente, as mulheres acometidas pela pseudociese têm histórico de transtorno psicológico ou psiquiátrico, o que atrapalha ainda mais a percepção da realidade.Flávia conta que os episódios de pseudociese só chegaram ao fim quando ela, de fato, engravidou. “Com a terapia, acabei aceitando o que acontecia comigo. Daí por diante, deixei de achar que estava grávida toda vez que minha menstruação atrasava”, finaliza.Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.Já leu todas as notas e reportagens de Saúde hoje? Clique aqui.Fonte: Metrópoles