Uma foto publicada pelo jornal Folha de São Paulo criada pela jornalista Gabriela Biló causou polêmica nas redes sociais e chegou a gerar nota de repúdio do Palácio do Planalto.A fotógrafa Gabriela Biló sobrepôs uma fotografia do presidente Luis Inácio Lula da Silva arrumando sua gravata com uma vidraça quebrada no Palácio do Planalto. A sobreposição causa a impressão de que o mandatário teria tomado um tiro na direção do peito.A imagem foi publicada no dia 18 de janeiro, 10 dias depois da invasão à Praça dos Três Poderes. Além de ter ido pras redes sociais, o duplo clique também parou na capa da Folha de São Paulo, onde Gabriela Biló trabalha.No veículo, a imagem foi associada à manchete “No foco de Lula, presença militar no Planalto é recorde”.
Montagem é fotojornalismo?
A foto utiliza a múltipla exposição, uma das primeiras formas de montagem no mundo da fotografia. Antigamente, em tempos analógicos, fazia-se dois cliques no mesmo filme, gerando uma sobreposição de imagens. Nas câmeras digitais de hoje em dia, isso é mais fácil. Na semana passada, Biló havia feito uma foto de Marina Silva utilizando a mesma técnica:Os debates foram insuflados pela temática da foto que retrata o chefe de estado do Brasil. A imagem remete aos atos violentos recentes que tiveram como vítima o presidente. Usuários das redes sociais acusaram a imagem de incitação à violência, crime de ódio e fake news. A filósofa Márcia Tiburi, por exemplo, fez a seguinte afirmação:A reação, contudo, não foi unânime.O governo emitiu nota repudiando o conteúdo da imagem, focando sua crítica ao veículo de comunicação. “É lamentável que o jornal Folha de S.Paulo tenha produzido e veiculado uma imagem não jornalística sugerindo violência contra o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no contexto dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Trata-se de uma montagem, por não retratar nenhum momento que tenha acontecido”, diz nota da Secretaria de Comunicação da Presidência da República.O argumento de Biló
A jornalista publicou um texto na Folha de São Paulo refletindo sobre as críticas e justificando suas escolhas.“Ao ver o Palácio ferido e a vida acontecendo normalmente, refleti sobre qual seria a melhor forma de traduzir o que eu estava sentindo —fotojornalismo não é só registro, é também tradução do ambiente, no caso, do ambiente político —e pensei nessa técnica antiga de dupla exposição”, afirmou a fotógrafa em coluna. “Como autora da foto, não vou dizer o que as pessoas têm que sentir, respeito como a foto chegou a quem viu violência. Mas a verdade não é uma só. Como a autora da foto, aceito as críticas. Ninguém é obrigado a ver o mundo da mesma forma que eu”, complementou Biló. Gabriela Biló foi vencedora do troféu Mulher Imprensa em 2020 e é considerada uma das principais fotojornalistas do país. Sua trajetória ganhou notoriedade há dez anos, quando fez uma cobertura fotográfica das marchas de junho de 2013. Passou pelo Estadão e hoje cobre Brasília pela Folha de São Paulo.Fonte: Hypeness