

O Brasil lamenta, nesta quinta-feira (2/2), a morte de Glória Maria, consagrada jornalista do Brasil, ícone feminino e sinônimo de representatividade negra. Assim como milhões de brasileiros, a Coluna Claudia Meireles acompanhou grandes reportagens da carioca, mãe de Maria, de 15 anos, e Laura, com 14.Em entrevistas, Glória era constantemente questionada sobre detalhes da vida pessoal. Em algumas respostas, a jornalista abria a boca e dava grandes lições que merecem ser compartilhadas. Confira a seguir os legados deixados pela repórter e apresentadora de programas como Fantástico e Globo Repórter:1. Vencer o preconceitoPioneira em vários quesitos, Glória Maria detém o título de ser a primeira repórter negra da televisão brasileira, não à toa a carioca não deixava de abordar temas relacionados ao racismo. Ela conquistou destaque em um momento em que os negros eram estereotipados, inclusive em novelas da própria TV Globo.Arinos, norma que tornou contravenção penal a discriminação racial. Ela recordou o episódio em uma postagem no Instagram em 2019. No ano seguinte, foi a vez de dar detalhes do caso em uma participação no Globo Repórter. No ocorrido, a apresentadora do Fantástico foi proibida de entrar em um hotel por ser negra e precisou chamar a polícia.“Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi, desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender de maneira que pode. Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção. Eu fui barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia, e levei esse gerente do hotel aos tribunais. Ele foi expulso do Brasil, mas ele se livrou da acusação pagando uma multa ridícula”, legendou.A jornalista fez parte de marcos do jornalismo brasileiro
2. Voz contra o etarismo
Por vezes, a idade de Glória Maria virou notícia — e ainda é. Em entrevista a jornalista Claudia Lima, pauteira do programa Saia Justa, a icônica repórter deu uma aula sobre etarismo feminino. Ela foi uma das primeiras vozes no combate ao preconceito e intolerância contra pessoas com idade avançada.Com o falecimento de Glória, o vídeo da entrevista foi resgatado e mostrou a razão dela ser uma importante figura que lutou contra o etarismo. “Porque é a minha vida. Ninguém paga as minhas contas. Ninguém cuida dos meus problemas. Quando eu deito na cama ninguém sabe o que eu tô vivendo, o que eu tô sentindo. Então se eu quero usar uma roupa curta, eu uso. Se eu quero usar comprida, eu uso”, ressaltou.A carioca foi uma voz potente contra o etarismo
“Sou uma pessoa que quero estar bem comigo, sabe por quê? Eu vou morrer. Ninguém vai morrer por mim. Quem vai me julgar hoje não vai deitar lá no caixão, no meu lugar. E aí o que você quer que faça? Que eu vá viver segundo a opinião das pessoas. Não tem como. Eu vou vivendo do meu jeito, vou levando. Se agradar elas, problema é delas”, continuou Glória.Antes de finalizar a imponente declaração, a jornalista deixou a seguinte lição: “A vida é minha, como é que eu posso querer viver a sua vida? Então isso é uma coisa que pelo menos, a vida vem me ensinando. A minha vida é única e intransferível, a sua também”.A apresentadora não ligava para a opinião alheia
3. Maternidade solo
Como uma parte das mulheres, Glória Maria não elaborou planos voltados para o tema maternidade. “Eu nunca quis ser mãe. O trabalho me preenchia, minha vida era perfeita”, enfatizou a jornalista no programa Encontro, da TV Globo. Entretanto, o contexto mudou quando a apresentadora conheceu as duas filhas durante uma viagem pela Bahia. “Elas surgiram por acaso”, defendeu.“Eu nunca tinha pensado em ter filhos até que vi as duas pela primeira vez e tive certeza que elas eram minhas filhas. Isso é uma coisa que não sei explicar”, rememorou. Primeiramente, Glória conheceu Maria e só depois, Laura. Na ocasião, a jornalista estava com mais de 60 anos e havia pedido uma pausa dos trabalhos nas telinhas. Ela participava de uma ação voluntária em um orfanato em Salvador.Glória mostrou ser verdadeira a máxima: “Mãe não é quem te coloca no mundo, é quem te cria”. Em uma história de amor maternal à primeira vista, a carioca não pensou duas vezes em dar entrada no pedido de adoção. Como o processo demorou 11 meses até ser concluído em 2009, ela se mudou para a capital baiana a fim de ficar perto “de suas meninas”.Nesta quinta-feira (2/2), internautas e admiradores do trabalho da jornalista aproveitaram para destacar a respeito dela ter se tornado mãe de Maria e Laura. “Fiquei fascinada com a notícia de adoção das filhas dela na época, porque sou filha adotiva e desejo um dia adotar sozinha. Ela teve uma vida incrível”, postou uma usuária do Twitter.Ativista e comunicadora social, Gabi Oliveira definiu a apresentadora do Fantástico e do Globo Repórter como “grande referência”. “Lembro do grande impacto que gerou em mim o fato da Glória Maria ter decido pela adoção da Laura e da Maria. Lembro da primeira matéria que vi sobre e de ter ficado fissurada com o fato dela ter adotado sozinha”, tuitou a criadora de conteúdo digital.Glória Maria com Maria e Laura. A jornalista adotou as irmãs em 2009
4. Símbolo de coragem e força feminina
“Agora, essa coisa do empoderamento. Poder a gente já tem, a gente tem que saber usar. Não quero que ninguém me empodere, porque eu acho que já tenho poder”, salientou Glória Maria em conversa com o portal Purepeople. A jornalista mostrava tamanha autenticidade, coragem e competência nas coberturas que fez. Ela não fugia de um desafio, ou melhor, ia atrás de cobrir importantes momentos.Glória Maria quem pediu para ser enviada para a Guerra nas Malvinas, em 1982. Dessa forma, tornou-se a primeira jornalista mulher a cobrir uma batalha armada. Ela acompanhou o conflito in loco, ou seja, na Argentina, por um mês e meio. “A guerra é uma coisa que me deu muito medo, mas não deixei que me paralisasse”, sustentou a jornalista no programa Encontro.Em entrevistas, Glória costumava dar lições de vida
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