Recentemente, a Coluna Claudia Meireles noticiou a realidade de pessoas do mundo todo que começaram a pedir ao ChatGPT para criar planos alimentares, papel que deveria ser destinado, desde sempre, aos nutricionistas. Em conversa com a especialista Nathalia Patrão, apurou-se que, de fato, a inteligência artificial ainda não consegue ter o tato necessário, tal como uma consulta com um profissional tem.Agora, um novo uso decorrente dessa tecnologia tem preocupado os especialistas em saúde mental: pessoas utilizando a ferramenta como terapia, no lugar de consultas ou sessões com profissionais. Afinal, que riscos essa prática pode gerar na vida do “paciente”?Psicóloga clínica especialista em psicanálise, neurociências e comportamento humano, Tatiana Casilo lembra que a tecnologia tem ganhado cada vez mais espaço, no entanto, paralelamente a isso, coloca algumas profissões em risco. “Particularmente, não acredito que isso pode chegar ao lugar de substituir, ao pé da letra, o trabalho de um psicólogo”, opina.Segundo ela, um acompanhamento profissional de qualidade “é muito mais do que jogar pequenas perguntas dentro de um recorte de contexto para a IA e ter como resposta aquilo que se deseja ouvir”.Perigos
Para Tatiana, a partir do momento em que alguém deixa de utilizar as mais diversas formas de tecnologia com sabedoria, ela pode se tornar perigosa. “A ferramenta é uma grande aliada quando a utilizamos com bom senso, com discernimento e, assim, trazemos aprimoramentos e melhorias para nossas vidas”, pontua.“O perigo vem quando começamos a buscar por atalhos, por respostas prontas, por moldes pré-estabelecidos. Isso não só na saúde mental, mas em qualquer outro âmbito da vida”, alerta a especialista.Na opinião dela, a principal habilidade de um profissional qualificado é a capacidade de escuta para além daquilo que a pessoa fala. “Em um processo de análise, muitos fatores são levados em consideração. Um dos mais importantes é não ditar caminhos prontos para que a pessoa siga”, explica.De acordo com a psicóloga, um bom profissional irá receber, ouvir, acolher e entender que a história da pessoa é única e, a partir do caminho terapêutico, auxiliar no olhar para as mais diversas camadas que compõem a vida daquele paciente.“Nós não somos recortes, somos o todo que nos compõe. Chegamos ao mundo com uma história já em andamento em uma sociedade, em uma cultura. Tudo isso influencia na nossa forma de ver a realidade ao nosso redor”, frisa.Visto isso, a IA não tem a capacidade de abrir todo esse horizonte, segundo Tatiana. “Um momento com a IA não é um acompanhamento. Você pode, sim, ter boas respostas a partir de bons questionamentos feitos à ela, mas é apenas isso: boas respostas. Não te leva a um processo de compreensão de si e nem da sua história”, fala.“O objetivo de um acompanhamento profissional é auxiliar a pessoa que busca a clarear aquilo que ela carrega em si, mas que, devido a tantos excessos do mundo, ela não consegue validar ou até mesmo enxergar”Uma análise, quando bem realizada e acompanhada, auxilia o ser humano a olhar para a sua história com mais amor e cuidado, entendendo os seus gatilhos, os caminhos que percorre e permitindo-o a abrir espaço para novos percursos, a partir da elaboração de quem ele foi, de quem ele é e de quem ele deseja ser, conforme descreve Tatiana.Um bom profissional irá receber, ouvir, acolher e entender que a história da pessoa é única
Afinal, e quem não puder pagar por uma sessão de terapia? “Eu não recomendaria a buscar o ChatGPT como uma ferramenta terapêutica, mesmo que seja acessível”, responde a psicóloga. “O que muitas pessoas não sabem é que existem muitos profissionais que atendem a um preço mais acessível, só que isso só é comunicado se a pessoa solicitar”, acrescenta.A especialista aconselha aos que buscam por um profissional que não tenham vergonha de perguntar se ele estaria disponível para um atendimento mais barato, financeiramente falando. “Caso não encontre, diversas faculdades fornecem atendimento ao público com valor social”, destaca. “A saúde mental merece ser olhada com cuidado, não de forma generalizada”, finaliza.Fonte: Metrópoles