Os pró-fármacos são substâncias químicas administradas de forma inativa, mas que são ativadas ao entrar em contato com o organismo. Este tipo de tecnologia é usada em alguns medicamentos antivirais, ou em opções para tratamento de TDAH, por ser mais estável, melhorando a entrega do princípio-ativo.Porém, a ferramenta também está sendo usada para mascarar drogas como LSD, canabinoides e cocaína, por exemplo. As chamadas pró-drogas geram, além do vício, riscos severos para a saúde. Uma das mais conhecidas, encontrada pela primeira vez em fevereiro de 2022 no país, é a ALD-52. Quando ela é metabolizada pelo fígado, acaba sendo transformada em LSD.Farmacêuticos da Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo, explicam que é como se estivéssemos tratando de drogas, mas com um “vestido diferente”. Em dezembro de 2022, eles publicaram um artigo sobre o assunto na revista científica Forensic Science International.Em alguns casos, as novas drogas sintéticas podem ser até cem vezes mais potentes que as originais, o que aumenta os riscos para a segurança do usuário e também de outras pessoas, uma vez que causam alucinações prolongadas.Como as drogas só têm efeito após serem metabolizadas pelo organismo, elas têm uma ação mais lenta, mas igualmente nociva. No mundo inteiro, mais de 800 compostos já foram identificados para mascarar drogas como canabidióides sintéticos, ecstasy e metanfetamina.O uso das pró-drogas, porém, é beneficioso apenas para quem lucra com o tráfico, já que ao possuírem assinaturas químicas diferentes das drogas ilegais, o comércio é facilitado. Muitas vezes, o usuário final é cobaia das combinações químicas.Os riscos do consumo
De acordo com os pesquisadores, as pró-drogas mais identificadas no Brasil são os canabinóides sintéticos, que produzem efeitos semelhantes e potencializados aos do tetra-hidrocanabinol (THC), componente psicoativo da maconha.Outro tipo de substância popular são as catinonas sintéticas, drogas estimulantes de efeitos semelhantes aos da cocaína e do ecstasy, que podem desencadear desde arritmia cardíaca até infartos; e as feniletilaminas, alucinógenos semelhantes ao LSD, mas com efeitos prolongados de até 12 horas.Como identificar as pró-drogas?
Identificar as substâncias mascaradas é um dos maiores desafios para combatê-las. Um estudo publicado na edição de setembro de 2023 no Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis por médicos da USP revelou as dificuldades até para estabelecer bases de análise destas drogas.Por isso, eles tiveram que criar solventes sintéticos próprios para extrair as substâncias e realizar as provas de toxicologia. A Unicamp criou em 2021, em parceria com a USP e com diferentes corporações policiais, o INSPEQT, uma iniciativa para mapear as novas substâncias e analisá-las.“Nós vemos que, na prática, estamos falhando nessa identificação. Quando um paciente chega intoxicado, frequentemente está inconsciente. Por isso, são necessários exames com amostras de sangue, cabelo, saliva ou urina para identificar aquela droga. É preciso identificá-la rápido”, afirmou o coordenador do Laboratório de Toxicologia Analítica da Unicamp José Luiz da Costa ao site da universidade.Fonte: Metrópoles