Uma infeliz onda de maus-tratos se iniciou a partir da disseminação da ideia de que gatos pretos dão azar, mitos esses que precisam ser desconstruidos. Alguma vez você já se perguntou em como a imagem dos bichanos se tornou parte característica do conto das bruxas?
Para se pensar em como os gatos e as bruxas se tornaram parte da mesma narrativa de perseguição social, é preciso voltar para os séculos 16 e 17. De acordo com a professora de história Ana Maria dos Santos, tudo começa com a celebração celta que marcava o final da colheita e início do inverno, no dia 31 de outubro. “Nessa época, acreditava-se que os espíritos dos mortos retornavam à Terra”, conta a professora.
Simultaneamente, tinha início uma perseguição religiosa que acusava mulheres de estarem praticando magia e realizando rituais. Misturados os elementos de ambas as culturas, surgiu a imagem da bruxa, uma figura demonizada. “Elas passaram a ser uma parte icônica do Halloween, simbolizando o sobrenatural e o místico”, completa.
E é nesse momento que entram os felinos de pelagem negra. Na Idade Média, existia uma crença de que as bruxas poderiam se transformar em gatos, ou mesmo os tinham como fiéis companheiros. “Eram considerados seus ‘familiares’ ou espíritos protetores”, explica Santos.
As associações entre as bruxas e os gatos foram continuamente reforçadas por superstições que ligavam cada vez mais os gatos pretos à má sorte e ao sobrenatural, “refletindo medos e crenças que persistem na cultura popular até hoje”, lamenta a profissional.
Uma vez associados às mulheres praticantes de magia, não foi difícil, então, fortalecer a crença de que esses bichanos trazem má sorte. A associação foi sendo reforçada por superstições e folclore, fazendo com que as pessoas acreditassem que encontrar um gato preto era um sinal claro de infortúnio.
Combate ao estigma é importante
Por isso, ao final do mês de outubro, é sempre importante reforçar o combate ao estigma sofrido pelos felinos.
Segundo o veterinário Mário Falcão, o mito de que os gatos pretos trazem azar é uma crença sem fundamento, e que influencia negativamente a adoção desses pets. “Gerando situações de abandono e maus-tratos, especialmente em épocas como o Dia das Bruxas e nas sextas-feiras 13”, adverte.
O veterinário destaca que diversos estudos já comprovaram que o comportamento e a personalidade dos gatos não têm nenhuma relação com a cor de sua pelagem, e que todos os bichanos merecem cuidado e respeito. “Eu ainda oriento aos tutores que têm gatos pretos a manterem os pets em casa durante essas festas”, alerta o profissional.
Fonte: Metrópoles