São Paulo — Em uma carta divulgada nessa terça-feira (14/1), o pai do estudante de medicina morto por um policial militar na Vila Mariana, na zona sul da capital, lamentou a decisão da Justiça de São Paulo de negar a prisão do PM acusado pelo crime. No texto, o médico Julio Cesar Acosta Navarro diz que, há 57 dias, ganhou, sem querer, um passaporte para o inferno.
O que se sabe
- O estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, foi morto no dia 20 de novembro pelo PM Guilherme Augusto Macedo durante abordagem em um hotel na Vila Mariana, em São Paulo;
- No dia 3 de janeiro, foi concluído o inquérito policial que investigava o caso e, por meio do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), a Polícia Civil pediu a prisão do policial militar;
- Nessa terça-feira, foi divulgada a decisão da juíza Luciana Menezes Scorza, que negou a prisão preventiva;
- O pai do jovem, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, redigiu uma carta, à qual o Metrópoles teve acesso, sobre a decisão;
- No texto, Julio disse ter recebido, “com surpresa, tristeza e sensação de rebeldia” sobre a decisão. Segundo o médico, Guilherme Macedo e o outro policial que participou da abordagem, Bruno Araújo do Prado, “ceifaram a vida do meu filho caçula da maneira mais cruel e covarde”, disse.
“Somente sendo um pai de família, e usando a simples razão ou bom senso, qualquer um pode perceber a irracionalidade colocada na argumentação pela juíza”, opinou Julio. De acordo com ele, o PM cumpre os requisitos para a prisão preventiva.
“A condição de criminosos soltos dos PMs referidos resulta em uma sensação de impunidade para outros policiais militares cometerem outros crimes”, falou o pai de Marco Aurélio na carta.
Prisão negada
A juíza Luciana Menezes Scorza entendeu que, nos termos da lei processual penal vigente, a prisão preventiva de Guilherme Augusto Macedo não é cabível no caso. Segundo ela, “os elementos constantes dos autos não evidenciam periculosidade social do denunciado nem risco por seu atual estado de liberdade.”
O pai de Marco Aurélio, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, disse que a decisão da juíza foi um golpe duro. “Esse pesadelo nunca acaba”, desabafou.
A decisão também reitera que Guilherme Augusto Macedo está realizando funções administrativas, exercendo atividades diferentes da Operacional, e sendo fiscalizado por seu comando. O PM, segundo o texto, é primário e portador de bons antecedentes, além de não ter interferido nas investigações.
Com o pedido de prisão preventiva negado, Guilherme deverá comparecer mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades e manter seu endereço residencial atualizado. Ele está proibido de se ausentar da região onde mora por mais de 8 dias sem autorização judicial, frequentar bares e festas, e manter qualquer tipo de contato com familiares da vítima e testemunhas da acusação.
Câmeras corporais
O pai do estudante que foi morto por um policial militar em 20 de novembro de 2024 assistiu, na última sexta-feira (10/1), pela televisão, as imagens das câmeras corporais dos agentes que participaram da abordagem que aconteceu em um hotel na Vila Mariana, em São Paulo. Julio César lamentou a execução “covarde” de seu filho e disse estar vivendo “tempos de guerra da maldade, da criminalidade contra a nação, contra os inocentes”.
“Acabo de ver, pela televisão, como foi executado o meu filho, covardemente, e não foi socorrido por esse lixos desses soldados. Quero que saibam que eles merecem a pena de morte, pela lei”, lamentou o médico. “O uso de arma de um militar contra os inocentes é crime”, acrescentou o pai do jovem em áudio.
No primeiro vídeo, é possível ver o soldado da PM Guilherme Augusto desembarcar do carro após o estudante dar um tapa no retrovisor da viatura. Ele corre atrás do rapaz, dá ordem para que ele pare. Marco Aurélio entra no hotel e fica encurralado. As imagens são fortes. O jovem tenta pegar a perna do outro PM e é alvejado por um disparo. Veja:
No segundo vídeo, é possível ver a câmera do soldado Prado, que está ao volante. Ele acompanha ainda dentro da viatura a perseguição do colega ao estudante. Em seguida, ele para a viatura e entra no hotel. Na sequência, ouve-se o disparo. Então, o policial sai e pede apoio. Depois, ele solicita uma unidade de resgate. Veja:
Veja imagem:
Um relatório de investigação sobre a morte do estudante mostrou que o jovem, de 22 anos, foi encurralado pelos policiais militares antes de ser baleado pelo policial militar Guilherme Augusto Macedo. O documento, que mostra as imagens captadas pelas câmeras corporais acopladas às fardas dos agentes, afirma que as últimas palavras de Marco Aurélio teriam sido: “Tira a mão de mim”.