Você já imaginou o Sítio do Picapau Amarelo com um toque ecológico, de suspense/terror? Péterson Paim, cineasta brasiliense, mergulhou na obra de Monteiro Lobato e deu sequência à história, trazendo novas roupagens aos personagens e buscando referências pouco conhecidas do romance para dar vida ao filme Réquiem Para Dona Benta.
Na primeira fase (antes de o Sítio do Picapau Amarelo), o diretor revela o conturbado nascimento de Narizinho. Na outra fase do filme (depois de o Sítio do Picapau Amarelo que todos nós já conhecemos), Paim nos apresenta Narizinho e Pedrinho adultos, já nos dias de hoje, enfrentando problemas e confusões contemporâneos.
A Dona Benta debilitada vendeu o sítio para custear seu tratamento de saúde. Especuladores detonaram as nascentes do local, o que provocou a fúria dos seres folclóricos que habitam a região. A consequência é o sequestro da filha de Pedrinho e da mãe de Narizinho (desaparecida há anos), fazendo os dois primos enfrentarem grandes desafios em uma jornada mortal.
Em entrevista ao Metrópoles, Péterson Paim explicou que o lançamento vai ficar para 2024, mas que o longa já foi inteiramente gravado e encontra-se na fase de edição. “Estamos no processo de montagem do filme e estão sendo adicionados alguns efeitos visuais. A ideia é lançar tanto em festival, como no circuito comercial”, explicou.
Dentre os atores escolhidos para a obra, estão Kadu Moliterno, que faz o Sr. Francisco, marido de Dona Benta; Rosana Penna, ex-atriz da Globo, que dá vida à Cuca. “A maioria dos atores são daqui, tem algumas peças que são de fora da cidade”, explicou o diretor. O intérprete de Pedrinho, por exemplo, é um brasiliense estreante: Gabriel Duarte.
Entre as inspirações para fazer o Sítio do Picapau Amarelo, Péterson Paim revela que utilizou o Labirinto do Fauno (2006), de Guillermo del Toro. “Ele tem um pouco dessa pegada que você mescla o lúdico com o suspense, aventura com uma abordagem política não-partidária, como ocupação irregular do solo, com o sítio que se tornou um condomínio”, declarou.
Dando mais detalhes sobre o filme, o brasiliense conta por que decidiu falar da mãe de Narizinho:
“Ela nunca foi abordada nas histórias de Monteiro Lobato, nem é mencionada. Eu fui investigar e dei uma roupagem para ela. Eu criei uma história com base nas minhas pesquisas sobre o autor e o nome dela é até uma referência a quem inspirou a Narizinho, Guiomar”.
Guiomar Novaes era vizinha do escritor e uma famosa pianista brasileira, que nasceu em fevereiro de 1894 e faleceu aos 85 anos. A artista participou da Semana de Arte Moderna, em 1922, manifestação artístico-cultural, realizada em São Paulo.
O filme traz a questão ambiental, que, de acordo com o cineasta, “é marcante, mas não maçante” e também aborda os elevados preços da saúde no Brasil.
Produção do filme
A realização do filme, que contou com recursos das leis de fomento locais, só pode ser completada após a obra de Monteiro Lobato cair em domínio público. “Eu tentei com a família do Monteiro Lobato, mas os direitos eram da Globo”, explicou.
A partir da liberação, ele adotou seguir a linguagem que mescla suspense e aventura.
“As criaturas não estão mais com a aparência infantil, boazinha, pelo contrário, são mais assustadoras mesmo. A Emília, por exemplo, não é uma coisa que você fala ‘nossa, que lindinha’, tem um visual que lembra um espantalho de filme de terror”, contou.
E não foi só Emília que teve uma repaginada em seu visual. O Visconde Sabugosa sofreu mutações e agora tem uma coloração verde em sua pele; a Cuca sofre metamorfose, aparecendo em diferente fases; e o Saci Pererê aparece em três versões (um mais forte, outro indígena e um terceiro, latino).
Locação em Brasília para o filme
Fernando Toledo foi o responsável por fazer a locação dos espaços para as gravações, que aconteceram em Brasília, como condomínios do Lago Sul, Setor Comercial Sul e o Cine Brasília, Goiás e Minas Gerais. “O fato de gravar um filme com os personagens do Sítio do Picapau Amarelo foi muito bem aceito e sensibilizou os donos das locações. Afinal, todo mundo já ouviu falar do Sítio”, explicou o produtor.
A questão mais complicada, segundo Fernando, foi a Gruta da Cuca, que foi gravada em uma gruta de verdade e contou com “todas as dificuldades que uma locação desta natureza oferece, como por exemplo o acesso da equipe, equipamentos e alimentação”.
Fonte: Metrópoles