“A Amazônia é esfolada viva”, diz, nesta quinta-feira (12/9), a manchete de capa do jornal francês Libération. Os incêndios na maior floresta tropical do mundo preocupam cientistas em todo o planeta. Desde o início do ano, foram registrados 82 mil focos de incêndio na região, agravados pelo aumento das temperaturas e uma seca histórica.
Além da Amazônia, o Pantanal, a maior zona úmida da Terra, e áreas de biodiversidade únicas, como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, também são consumidos pelo fogo, descreve o Libération.
No Brasil, garimpeiros em busca de ouro e agricultores sempre tiveram o costume de queimar a vegetação para preparar o solo antes do plantio. Mas, desde o governo do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, que incentivou essas práticas, as autoridades enfrentam novos inimigos na preservação dos biomas: facções criminosas pró-desmatamento, assinala o diário. Em São Paulo, mais de 90% dos incêndios ocorridos nas últimas semanas foram causados pela ação humana, o que surpreendeu as autoridades.
A especialista em clima Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), declara ao jornal francês que “a estupidez humana e a corrida pelo dinheiro estão arrastando o mundo para um suicídio coletivo”. “O mundo está comendo a Amazônia”, diz ela revoltada, referindo-se ao desmatamento decorrente do plantio da soja exportada para alimentação animal e o comércio do couro.
O francês Boris Patentreger, diretor da ONG Mighty Earth, endossa o grito de revolta da brasileira, e diz que a França deve atualizar sua estratégia nacional de 2019 contra o desmatamento importado. A legislação europeia que entra em vigor em janeiro de 2025, proibindo a venda de produtos de áreas desmatadas, dá uma certa esperança à ONG Greenpeace.
Emergência climática
Mas o editorial do Libération enfatiza que o mundo está diante de uma emergência climática. O ponto de não retorno no papel regulador da Amazônia para o equilíbrio climático global, tantas vezes evocado pelos cientistas, está chegando mais rápido do que se pensava. “Os brasileiros e vizinhos de oito países da região estão sendo asfixiados pela fumaça que já cobre 60% do território brasileiro”, aponta o jornal.
“Será que ainda é preciso lembrar o impacto desses incêndios sobre a saúde humana”, questiona o editorial, diante do aumento de casos de conjuntivite, rinite, asma, pneumonia e outras doenças agravadas pela inalação da fumaça tóxica proveniente das queimadas.
O jornal de linha editorial progressista reconhece que o desmatamento caiu pela metade no ano passado, em relação a 2022. “Seria mentiroso dizer que nada foi feito, mas é indiscutível que é preciso fazer mais, muito mais, para preservar o que resta da Amazônia”, conclui o Libération.
Fonte: Metrópoles