Rosto conhecido na cobertura sobre o avanço da pandemia no Brasil, Margareth Dalcolmo é categórica em dizer que o mês de março será “o mais triste de nossas vidas“. A previsão da professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz chega no momento em que diversos estados estão à beira de um colapso diante do aumento descontrolado das infecções provocadas pela covid-19.
Colapso, liderança e coragem
Números publicados pela BBC Brasil dão conta de que 17 estados da nação estão com hospitais com nível de ocupação acima dos 80%, o que pode ser considerado crítico. “Eu não tenho dúvida de que teremos o mais triste março de nossas vidas. Isso é resultado do Carnaval e do descompasso entre o que nós, cientistas, dizemos, e o que as autoridades afirmam. Nos últimos dias, ouvimos que não é pra usar máscaras. Não há dúvidas, está demonstrado que a máscara é uma barreira mecânica que protege quem usa e todo mundo ao redor”, disse Margareth Dalcolmo à BBC. A pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz afirma que apenas um lockdown consistente será capaz de frear o aumento exponencial de incidência de casos. Mais de 10 milhões de brasileiros possuem ou já foram infectados com a covid-19 desde o início da pandemia.
Bares seguem lotados desde início de pandemia
“Nós estamos num momento muito grave da pandemia no Brasil, com um recrudescimento já materializado daquilo que consideramos uma segunda onda. Isso não nos surpreende, uma vez que as medidas de controle sanitário não foram só controversas, mas também ineficientes por um longo tempo. Nós sabemos também que a única solução possível para controlar a pandemia será a vacinação, e a campanha está apenas no início, numa velocidade muito aquém do desejável”, destaca Dalcolmo.
SP deve entrar em fase roxa
Uma das tentativas de frear o avanço da doença que já matou mais de 250 mil pessoas no Brasil é o lockdown aos finais de semana. A sugestão de alguns governadores, no entanto, é vista como insuficiente por especialistas.
“Não é eficaz [manter lockdown apenas nos sábados e domingos]. Evidentemente que ajuda a reduzir a transmissão a partir de eventos sociais, mas é pouco quando estamos em situações extremas de elevada ocupação de leitos associada a altas taxas de transmissão viral”, explicou ao UOL Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo. Estado mais rico da nação, São Paulo bateu novo recorde de internações no último dia (2) e está com 74,3% dos leitos de hospitais ocupados por mais de 7.100 pessoas internadas. João Doria (PSDB), porém, segue tomando medidas tímidas e paliativas. A expectativa é que São Paulo adote a fase roxa – que reduz o horário de funcionamento de supermercados e serviços de delivery.
O governo federal segue sem agir e o vice-presidente Hamilton Mourão se mostrou contrário ao bloqueio nacional. “Cada população tem sua característica, se você analisar o país são cinco países diferentes em um só, o Norte é uma coisa, Nordeste é outra, etc e tal. Então, não adianta você querer impor algo nacional. E aí como é que você vai fazer isso para valer? A imposição? Nós não somos ditadura. Ditadura é fácil, sair dando bangornada em todo mundo”, declarou Mourão aos repórteres em Brasília na segunda-feira (2).
Fonte: Hypeness