Há quem diga que o sinônimo de mulher é cuidado. No entanto, as mulheres têm mostrado que estão mais relacionadas ao termo competência, seja na área que for, inclusive na saúde, que é responsável por grande parte do bem-estar de uma pessoa.Filha de um educador físico e de uma nutricionista, Ana Luísa Rocha Santos, 26, tem proximidade com a área desde pequena. Boa aluna, percebeu que a carreira médica era viável e assim fez: formou-se na Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, ela é médica residente na UBS 5 do Arapoangas e atua na saúde da família e comunidade.A jovem profissional acredita que a especialidade influencia o crescimento da mulher dentro da medicina. Apesar de os concursos para residência não discriminarem gênero, existem algumas áreas que são tradicionalmente mais masculinas, como cirurgia e clínica médica. “No entanto, tenho visto cada vez mais mulheres assumindo cargos de chefia e em especialidades antes dominadas por homens. Na atenção primária, onde eu trabalho, é mais dividido”, constata.Mas Ana Luísa relata que ainda percebe um estranhamento por parte de alguns pacientes nos consultórios. “Sinto que alguns deles ficam mais inseguros, com um olhar diferente. Não sei se é porque sou recém-formada ou mulher”, confessa. A médica, no entanto, é otimista: “As coisas estão mudando. No Ministério da Saúde, por exemplo, temos uma ministra”.Para a residente, a maior presença delas nos serviços de saúde traz mais sensibilidade para a área. Iniciando a carreira, a brasiliense pretende construir sua trajetória na saúde pública. “O Sistema Único de Saúde (SUS) tem a maior rede de atenção primária no Brasil. É uma especialidade muito importante, porque é a porta de entrada do paciente para o sistema. Além de conseguir resolver 80% dos problemas de saúde”, ressalta a jovem médica.Cuidar da mente
Catarina Gouveia, 49, chegou à psicologia de maneira inusitada. Ela foi designer de interiores até 2010 e, ao longo da experiência profissional, precisou entender as dinâmicas familiares internas dos seus clientes para entregar resultados satisfatórios. Ainda na profissão original, ela assumiu a direção do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da Cidade Estrutural e ocupou o cargo de diretora do órgão durante um ano e meio, período em que despertou para o chamado da psicologia.Já na área do cuidado com a saúde mental, ela também trabalhou no plantão psicológico do Instituto de Saúde Mental, no Riacho Fundo 1. “É uma espécie de emergência para o acolhimento de pessoas em surto psiquiátrico”, explica a terapeuta. Atualmente, Catarina trabalha na área clínica. Nos 14 anos de estrada, entre as muitas experiências profissionais que teve, encarou um paciente que não levava muito a sério as palavras dela. “Senti que se fosse um terapeuta homem, o que eu falava teria sido levado mais em consideração”, reflete, sem parar de defender a presença feminina na psicologia. “Acho que a relação da mulher com a psicologia é inevitavelmente relacionada a uma maior empatia. A mulher é mais empática tanto com outras mulheres quanto com os homens”, sustenta. Um dos grandes desafios da profissão, segundo ela, é a eterna vigilância para não enrijecer nas próprias crenças. “É preciso abertura e plasticidade para manter a capacidade de rever suas concepções”, disserta.Sobre o impacto do machismo sobre as mulheres, Catarina alerta para o relacionamento tóxico. “É a naturalização do ato de oprimir. As mulheres, muitas vezes, adoecem antes mesmo de perceberem que vivem em um relacionamento problemático”, lamenta. “Que as mulheres tenham a habilidade de identificar o que querem e, depois disso, tenham energia para procurar uma maneira de conseguir aquilo”, conclui a experiente terapeuta.Nutrir a vida
Aos 53 anos, Simone Rocha Santos tem, atualmente, uma clínica de nutrição, mas destaca que batalhou muito para atingir suas conquistas profissionais. Primeiro, ela entrou para a graduação em educação física. Um dos professores, ao observar o desempenho da carioca — que veio com a família para Brasília ainda nos anos 1970 —, aconselhou a ela que fizesse um outro curso na área da saúde. A escolha foi a nutrição. Como resultado, uma jornada tripla, tendo que tocar duas graduações e o trabalho.”No início da minha carreira, a nutrição atuava mais na alimentação hospitalar ou nos bandejões de órgãos públicos e empresas privadas”, rememora. “A minha geração, dos profissionais dos anos 1990, liderou uma transformação na profissão. Agora, temos nutricionistas proporcionando prevenção de doenças e qualidade de vida para os pacientes”, orgulha-se. Antes dominada pelas mulheres, Simone percebe que a profissão está mais dividida entre os gêneros, mas não deixa de puxar a sardinha para o lado feminino da força. “Nós temos a facilidade de acolher e ouvir, o que é muito importante na saúde, porque ajuda na hora de tomar decisões e educar o paciente na alimentação”, defende.A carioca chama a atenção para as cobranças que as mulheres sofrem, que são muito mais pesadas do que as direcionadas aos homens, o que faz, muitas vezes, com que elas deixem de exercer o seu papel na sociedade. “Se fosse em outra época, eu pediria mais oportunidades para as mulheres. Hoje, eu desejo que elas acreditem que elas são capazes e que ocupem espaços que são, por direito, nossos”, finaliza.Fonte: Correio Braziliense