Quem sofre da deficiência na produção de insulina, e com isso tem diabetes, já escutou de tudo um pouco, principalmente, quando o assunto é a alimentação. Seja nas redes sociais ou nas rodas de conversa, sempre existirá alguém com uma receita caseira, um chá ou alguma proibição em relação a algum alimento que, supostamente, o diabético não pode consumir.
Fato é que a diabetes é uma doença silenciosa que pode provocar efeitos graves como cegueira e amputação de membros, e que em 2019 chegou à marca de 15 milhões de brasileiros, conforme levantamento do Ministério da Saúde.
Mas se tem alguma coisa que a endocrinologista Daniella Muniz, que atua no hospital São Mateus, em Cuiabá, desmistifica é o seguinte tabu: “não existe nenhum alimento que o diabético não possa comer de forma alguma”.
Quais são os principais fatores que causam a diabetes?
Para o diabetes tipo 1 não há pesquisas conclusivas sobre os fatores de risco, porém a presença de doenças autoimune e ter familiares com diabetes podem aumentar o risco. Já o diabetes tipo 2 os fatores de risco estão bem estabelecidos, são eles: pré-diabetes, colesterol ou triglicerídeo elevados, excesso de peso, pressão alta, ter tido diabetes gestacional ou filho que nasceu com mais de 4kg, síndrome de ovários policísticos, doenças psiquiátricas, histórico familiar de diabetes tipo 2 e uso de corticoide
Quais as diferenças entre os tipos 1 e 2 da diabetes?
O diabetes 1 é uma doença autoimune na qual o sistema imunológico ataca equivocadamente as células beta do pâncreas. O resultado é a incapacidade de liberar insulina e a glicose fica no sangue, em vez de ser usada como energia. Pode ser diagnosticado em qualquer idade, porém é mais comum o surgimento na infância e adolescência. É sempre tratada com insulina, medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas. No diabetes tipo 2 o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz. Corresponde à 90% das pessoas com diabetes. Ele se manifesta mais frequentemente em adultos. Sempre deve ser tratado com atividade física e planejamento alimentar e em alguns casos, associa-se o uso de insulina e/ou outros medicamentos para controlar a glicose. Lembrando que existem outros tipos de diabetes além desses dois.
Existe cura para a doença?
Classicamente o diabetes é uma doença crônica que não tem cura, porém alguns estudos recentes mostraram que nos primeiros dois anos de diagnóstico a mudança de estilo de vida, com alimentação saudável, exercício físico regular e perda de peso, pode reverter um quadro de diabetes tipo.
Quais são os principais mitos em torno do diabetes?
Existem muitos mitos em torno dessa doença. Os mais corriqueiros são:
• Existem certos alimentos proibidos para diabéticos;
• Chás ou determinados alimentos (alho, berinjela, etc) curam diabetes;
• Diabéticos podem comer proteínas e gorduras a vontade;
• Os remédios para diabetes viciam;
• Insulina causa dependência;
O que um diabético pode comer e o que ele não pode de forma alguma?
Não existe nenhum alimento que o diabético não pode comer de forma alguma. Alimentos ricos em carboidratos devem ser ingeridos de forma adequada e com cautela. É difícil falar também de alimentos totalmente liberados, pois a ingestão de grandes quantidades de proteínas e gorduras podem alterar a glicemia. Por isso o importante é ter uma alimentação saudável e um nutricionista é essencial!
Dentre esses mitos em torno da diabetes, o senso comum aponta que determinadas frutas não devem ser consumidas por conta da frutose. Isso tem correspondência com a realidade?
Frutose é um carboidrato, porém frutas contêm fibras e vitaminas essenciais para nossa saúde. Mais uma vez, o importante é a forma e a quantidade que são ingeridas e um nutricionista é o profissional que ajudará o diabético nisso.
É possível viver com diabetes e não correr risco de sofrer as temidas consequências como cegueira e amputação de membros em razão da dificuldade de cicatrização?
Essas complicações são muito preocupantes mesmo, o diabetes é a principal causa de cegueira e amputação não traumática e uma das principais de necessidade de diálise. O diagnóstico precoce e controle adequado do diabetes reduzem o risco dessas complicações. Porém é uma doença silenciosa e muitas pessoas só são diagnosticadas quando apresentam alguma complicação. Por isso, é importante o rastreio do diabetes em pessoas selecionadas. E naqueles que são diabéticos, a frequência ao endocrinologista para investigar possíveis lesões na retina, nervos e nos rins, e dessa forma realizar diagnóstico em fases pré-clínica dessas complicações e possibilitar que não ocorra os temidos desfechos de cegueira, amputação e terapia de substituição renal (diálise).
Fonte: Põe na roda